Este episódio começa por procurar desmontar com a sexóloga Tânia Graça a ideia de que o orgasmo não é a única meta para o prazer, muito embora considere que a masturbação e orgasmo feminino é um ato político de recuperação do corpo e da sexualidade da mulher.
E em tempos em que o antifeminismo ganha nova expressão na sociedade e na Assembleia da República através da direita mais extrema e conservadora, é necessário, urgente até, ouvirmos pessoas como a Tânia a falar de liberdade sexual, diversidade, liberdade de escolha e autonomia, com conhecimento e informação.
Tânia acredita que a educação salva e que só existe uma educação sexual: a feminista. E por mais que pareça banal a conversa sobre sexo, a verdade é que raras vezes dizemos aos nossos amigos, amigas e amores o que realmente desejamos, queremos, fantasiamos. Nem mesmo à pessoa com quem dividimos a cama ou temos regularmento sexo. E em tempos de ‘apps’ de engate, de pornografia ‘a la carte’, livros eróticos e tudo o mais que há no mercado, ainda se papagueiam mitos e estereótipos - onde a maioria não encaixa realmente - e talvez a maioria das pessoas não seja realmente livre na sua sexualidade. Ou, pelo menos, haverá muita gente a achar que os seus desejos mais íntimos não são ‘normais’. E esta é uma das questões lançadas a Tânia.
De que se queixam mais elas e eles? Quais os grandes disparates mais repetidos? “Serei normal” é o mais recorrente?
E, quanto a isto, vale a pena citar um excerto do livro “Como pensar mais sobre sexo”, do filósofo e escritor francês Alain de Botton que escreveu o seguinte:
“Quase todos somos perseguidos por culpas e neuroses, por fobias e desejos tumultuosos, por indiferença e repulsa. Nenhum de nós lida com o sexo como seria natural - com aquele espírito alegre, desportivo, equilibrado, constante e sem obsessões que julgamos que as outras pessoas têm e com cujo pensamento nos torturamos. Somos universalmente pervertidos - mas só em relação a alguns ideais da normalidade que são altamente distorcidos. Uma vez que é tão vulgar ser-se estranho, só podemos lamentar que as realidades da vida sexual raramente cheguem ao domínio público.” Felizmente há espaços como o “Voz de Cama” e outros que tais.
E se há ainda quem considere que falar de sexo “é vulgar, ridículo, indecente, imoral, desnecessário, voyeurista. Que não é matéria para discutir, ler ou evocar, que deve apenas só ser praticado em recato, sem alarde.” Talvez mudem de opinião depois de ouvirem esta conversa com Tânia Graça.
Importa falar de sexo e sexualidade sim, com conhecimento e informação, porque quanto mais falarmos das várias formas de viver a sexualidade e intimidade, mais ferramentas teremos para explorar a nossa, e sermos menos preconceituosos quanto à dos outros. E aqui se destroem mitos:
“As mulheres costumam ter mais dificuldade em chegar ao orgasmo não por incapacidade natural, mas sim porque a penetração não é a nossa principal forma de ter prazer. E continua a ser prática central do sexo heterossexual. O clitóris é o único órgão do corpo humano que serve única e exclusivamente para dar prazer e que tem 10.000 terminações nervosas. Como é que nós continuamente o ignoramos?”
No ínicio desta segunda parte, Tânia começa por falar da amizade relâmpago com Ana Markl, com quem faz dupla no programa “Voz de Cama”, na Antena 3, das cumplicidades criadas, e da aprendizagem mútua, experiência em antena e nos espetáculos ao vivo. E responde à pergunta de Ana em relação a certos medos futuros sobre a “masculinidade tóxica”. E qual a tolerância que Tânia tem com amigos que têm comportamentos ou comentários machistas e misóginos? A sexóloga responde e dá exemplos. E revela mais sobre a sua intimidade e o passado difícil que explica em boa parte a razão de ser das suas lutas e causas.
E muitos outros assuntos são trazidos à baila neste podcast. Na era da tecnologia e das aplicações de engates andamos todos menos preparados para as relações, para o compromisso, para a sedução cara a cara? A narrativa do “felizes para sempre” é a grande mentira sobre o amor? De que forma as expectativas da sociedade podem perturbar a nossa sexualidade? Como manter a chama quando a vida é um stress contínuo e a saúde mental não anda sempre no seu melhor?
E ainda há espaço para Tânia partilhar algumas das suas músicas e os seus maiores desejos profissionais. Os búzios estão lançados.
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
Este podcast entra agora de férias, mas nas próximas semanas vão ser lançados episódios especiais. Fiquem atentas e atentos e boas escutas!