Orçamento do Estado

Mariana Mortágua: “Podemos olhar para o lado e dizer que daqui a três meses vai estar tudo bem, mas não vai estar”

Em entrevista ao “Público”, a deputada do Bloco de Esquerda diz que as negociações com o Governo não foram bem sucedidas porque as medidas apresentadas para responder à crise foram “insuficientes”. Mas rejeita a ideia de “divórcio” e diz que o partido continua disponível para negociar

JOSE SENA GOULAO

“Não levámos o nosso programa às negociações, levámos um conjunto de propostas que achámos importantes. E iremos à especialidade exactamente com as mesmas propostas.” A promessa é feita por Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, em entrevista ao jornal “Público”, depois de as negociações com o Governo não terem garantido o voto a favor dos bloquistas à atual proposta de Orçamento do Estado.

Mariana Mortágua lembra que o BE “não faz propostas para agradar” e aponta os “sinais de recusa” do PS durante as negociações, mas recusa falar em “divórcio” e garante que o partido estará disponível para viabilizar um orçamento que dê respostas “consistentes” à crise atual. “As medidas potentes chocam com o programa do PS, que desta vez não está disponível para abdicar um centímetro desse programa, apesar de as condições terem mudado muito de 2019 para 2020. Veio uma crise. Podemos olhar para o lado e dizer que daqui a três meses vai estar tudo bem, mas não vai estar”, remata a deputada.

E, se ainda não foi possível apoiar um Orçamento, muito menos é possível confirmar uma nova versão da Geringonça, diz Mariana Mortágua. “Por que é que falamos de um acordo de legislatura quando não há um entendimento no Orçamento? Se não temos um Orçamento capaz de responder a um ano de crise, por que é que estamos a desviar o assunto? O assunto é ter ou não capacidade para ter um Orçamento que responda ao país. É sobre o Orçamento que somos obrigados a dar resposta. Não devemos assumir respostas insuficientes, que mais tarde ou mais cedo vão tornar-se em promessas não cumpridas”, sublinha.

E a bloquista dá exemplos concretos daquilo que são, no seu entender, “respostas insuficientes”: “Tal como está escrito no OE, o apoio extraordinário deixa de fora trabalhadores independentes face ao apoio do ano passado. Também o subsídio de risco está muito longe da proposta que fizemos e tem uma abordagem muito limitada. São propostas que têm falhas muito grandes em aspectos essenciais”.