“Em 2023, cada habitante de Singapura perdeu, em média, cerca de 4.000 euros em esquemas financeiros fraudulentos, colocando o país no topo do ranking mundial. A Suíça surge em segundo lugar, com 3.700 euros por habitante.” (Financial Times)
É tão antigo quanto a própria Humanidade: pensar e agir como se aquilo que de mau acontece aos outros nunca nos pudesse acontecer.
As ciências que estudam o comportamento humano oferecem explicações para esta tendência que nos impede de aprender com os erros alheios. No centro de tal atitude está uma convicção subliminarmente enraizada — “isso não vai acontecer comigo” — que nos leva a subestimar os riscos associados a determinados comportamentos, mesmo quando confrontados com evidências claras.
Este fenómeno, conhecido como viés de otimismo, ajuda a explicar, em parte, por que razão o número de vítimas de fraude continua a crescer, apesar das campanhas de sensibilização. Os bancos, por exemplo, alertam repetidamente que nunca solicitam por telefone dados de acesso às contas; casos concretos de fraude são amplamente divulgados nos media e nas redes sociais. Ainda assim, o padrão repete-se.
Claro que o sucesso de uma fraude não depende apenas da ingenuidade da vítima. A criatividade dos burlões desempenha um papel crucial, sobretudo quando conseguem criar um contexto plausível que desarma até os mais cautelosos. Um exemplo: a chamada fraude “Olá mãe, olá pai” pode ser facilmente ignorada por quem não tem filhos. Mas para quem os tem — especialmente se estão longe ou em situações delicadas — o impacto emocional pode ser suficiente para suspender o pensamento crítico.
Um caso recente ilustra bem esta dinâmica. Eram cerca de 20h quando G., uma mulher de 70 anos, atendeu o telemóvel. Do outro lado, uma voz masculina, calma e educada, identificou-se como funcionário do banco. Informou que sem a confirmação de alguns dados uma transferência feita naquela tarde não poderia ser processada. O cenário parecia legítimo: G. tinha conta nesse banco e, de facto, uma transferência fora realizada.
O que a protegeu de consequências mais graves foi o facto de a conta ser gerida pela filha, que tinha sido a responsável pela operação. G. não tinha consigo o NIB, nem a chave de acesso, nem o número do cartão. O burlão, perante o insucesso, despediu-se com a promessa de voltar a ligar no dia seguinte. E assim fez. Mas, entretanto, a filha já tinha sido alertada e contactado o banco.
Apesar de não ter sofrido perdas financeiras, G. descreve a experiência como traumática: “Já tinha ouvido falar destas fraudes, mas nunca pensei que… Podia ter perdido todas as poupanças.” A partir desse momento, nunca mais esquecerá o aviso: os bancos nunca pedem dados de acesso por telefone.
Infelizmente, muitos outros, expostos ao mesmo aviso, poderão não ter idêntica sorte quando o telemóvel tocar e uma voz suave os tentar convencer.