Exclusivo

Opinião

Era porque sim, mas não foi

O “porque sim” era a maneira de os pais explicarem que nem é preciso explicar, como muitos de nós viriam a perceber

Não tenho qualquer preconceito geracional. Sempre nasceram génios e néscios, bondosos e bestas. De actores há, portanto, um pouco de tudo, e sempre haverá. Coisa diferente é o palco. O que vai traçando linhas de diferença entre gerações é sobretudo o mundo a que chega cada criança que nasce. Exemplo maior: é perfeitamente natural que haja diferentes visões da vida quando se acorda e cresce num mundo em que o computador integra o quotidiano, ou, como no caso da minha geração, se olha para a inteligência digital como algo que nasceu na ficção científica e só depois me bateu à porta de casa. Por vezes, pensando em filhos e pais e netos meus contemporâ­neos, gosto de tentar apontar algumas das diferenças realmente fundas. Que pequenos pormenores tornam a minha experiência de vida estranha aos mais novos. E, a propósito dos incêndios, lembrei-me, imagine-se, de duas expressões que os pais usavam e já não ouço em nenhuma circunstância. Duas expressões que são uma mesma ideia, no fundo — “porque eu digo” e “porque sim”.