São cada vez mais as doenças que podem ser prevenidas ou tratadas através da vacinação. Esta realidade traduz-se, para um grupo específico da população, as pessoas com doenças crónicas, num enorme potencial de ganhos em saúde. Ainda assim, os dados do relatório 'Health at a Glance: Europe 2024 - State of Health in the EU Cycle', da OCDE, revelam duas barreiras críticas que impedem que os benefícios destas conquistas científicas cheguem a quem delas mais precisa: a hesitação vacinal e as dificuldades de acesso.
Os números falam mais alto: de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que 262 milhões de pessoas em todo o mundo vivam com asma e 65 milhões com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), às quais se juntam outros milhões com rinite alérgica e outras doenças respiratórias crónicas frequentemente subdiagnosticadas.E estendem-se muito além das doenças respiratórias: 422 milhões de pessoas sofrem com diabetes globalmente; cerca de 700 milhões vivem com doença renal crónica; a IARC reporta 20 milhões de novos casos de cancro anualmente; mais de 64 milhões de pessoas enfrentam insuficiência cardíaca.
Estas estatísticas, que representam vidas reais, partilham uma característica comum: todas estas doenças enfraquecem o sistema imunitário, aumentando a probabilidade de complicações graves quando ocorrem infeções por doenças que são, muitas vezes, preveníveis através da vacinação.
O que significa que, para todas estas pessoas, a falta de acesso a esta forma de prevenção, independentemente dos seus motivos, tem custos, custos que podem ser muito altos. Os dados são inequívocos:
- o vírus sincicial respiratório (VSR), por exemplo, causa cerca de 250.000 internamentos hospitalares e 17.000 mortes hospitalares todos os anos em pessoas com mais de 65 anos;
- a mortalidade associada ao herpes zoster aumenta com a idade;
- no caso da gripe sazonal, a vacinação pode reduzir os internamentos e as mortes em 45% e 38%, respetivamente, nos idosos com diabetes, estando também associada a uma redução do risco de morte cardiovascular.
Para quem gosta de pensar em termos de custos, estes dados têm também tradução económica incontestável, com a aposta na vacinação dos doentes crónicos a apresentar inúmeras vantagens em termos de retorno financeiro: cada euro investido na vacinação de adultos (a partir dos 50 anos) rende 4€ de receitas económicas futuras para o governo ao longo da vida deste grupo. Além disso, um estudo recente do Office of Health Education sobre o valor socioeconómico dos programas de imunização de adultos, com foco na gripe sazonal, doença pneumocócica, herpes zoster e VSR em 10 países, revela que este tipo de programas devolvem até 19 vezes o investimento inicial, ou até 4.637 dólares por ciclo completo de vacinação individual.
Em Portugal, os números são particularmente relevantes. De acordo com os dados partilhados pelo INE, 42,3% das pessoas com 16 ou mais anos referiram ter doença crónica ou problema de saúde prolongado em 2024, resultados que indicam que Portugal é o terceiro país na União Europeia com a maior proporção de pessoas com doença crónica. O que significa que o potencial de ganhos com a vacinação é, por cá, verdadeiramente enorme.
Numa altura em que nos aproximamos do lançamento das campanhas de vacinação sazonal, importa não apenas recordar os benefícios de vacinas que sabemos que protegem e salvam vidas, mas também reconhecer que o conhecimento científico, por si só, não chega. É imperativo eliminar as barreiras que ainda persistem, sejam estas de natureza mental, como a hesitação vacinal alimentada por desinformação, ou de impossibilidade real de acesso, como limitações financeiras, geográficas ou de disponibilidade. Porque cada uma destas barreiras traduz-se em vidas que poderiam ser salvas, complicações que poderiam ser evitadas e sofrimento que poderia ser prevenido.
É neste contexto que surge o MOVA - Movimento de Doentes pela Vacinação, que luta pelo direito fundamental à vacinação de todos os doentes crónicos. Partindo da ideia que a proteção da saúde não pode ser um privilégio, mas é um direito universal, trabalhamos para que este direito se torne realidade através da inclusão e comparticipação de vacinas essenciais no Programa Nacional de Vacinação. Porque quando se trata de salvar vidas, não há lugar para barreiras.