Opinião

Biden cedeu à pressão: e agora?

O Partido Democrata selecionará outros candidatos para concorrer à presidência e à vice-presidência, sendo a escolha formal feita durante a Convenção do Partido Democrata, de 19 a 22 de agosto de 2024, em Chicago, quando os 3979 delegados tiverem direito a voto, com uma maioria necessária de 1990 para declarar o vencedor. Na minha opinião, a vice-presidente Kamala Harris será certamente selecionada e as presidenciais serão bem mais renhidas do que se prevê hoje

Antes de avaliarmos as consequências da decisão de Biden de não tentar a reeleição, regozijemo-nos! A decisão de Biden é uma notícia muito boa para o Partido Democrata e, a meu ver, para a América e para o mundo. Eu tinha a certeza de que, se Biden continuasse a ser o candidato democrata, Trump iria ganhar as eleições em 5 de novembro, ao passo que, agora, há pelo menos uma hipótese razoável de o candidato democrata poder vencer Trump.

O que vai acontecer a seguir? O Partido Democrata selecionará outros candidatos para concorrer à presidência e à vice-presidência, sendo a escolha formal feita durante a Convenção do Partido Democrata, de 19 a 22 de agosto de 2024, em Chicago, quando os 3979 delegados tiverem direito a voto, com uma maioria necessária de 1990 para declarar o vencedor.

Quem será o candidato do Partido Democrata a liderar a lista em novembro? Na minha opinião, a vice-presidente Kamala Harris será certamente selecionada, pelas seguintes razões:

  • O Presidente Biden continua a ser Presidente, mantem a benevolência dos delegados que foram eleitos para votar nele — de facto, a decisão de não se candidatar irá gerar um sentimento positivo adicional em relação a ele dentro do Partido Democrata — e apoiou formalmente Kamala Harris para encabeçar a lista democrata;
  • Não há tempo suficiente para outro candidato mobilizar um número suficiente de delegados que represente uma ameaça séria para ela, e o risco político de qualquer potencial candidato em procurar publicamente competir contra o vice-presidente é simplesmente demasiado grande;
  • Como vice-presidente, é a sucessora lógica; esta eleição será, em parte, um referendo sobre o historial da Administração Biden-Harris, e ela é a melhor pessoa para o defender;
  • Está mais exposta ao eleitorado americano do que qualquer outro potencial candidato democrata;
  • Harris é também a melhor pessoa para mobilizar a comunidade afro-americana, o maior e mais fiel bloco de eleitores democratas;
  • O Partido Democrata já demonstrou grande desunião durante as últimas semanas; ao escolher Kamala Harris, evita-se o potencial caos de uma Convenção contestada;
  • A sua posição é ideal para defender energicamente a visão do Partido Democrata sobre o aborto, a questão que se revelou um argumento vencedor nas eleições intercalares;
  • Harris pode ter um controlo imediato e provável sobre os grandes fundos de campanha angariados pela equipa Biden-Harris.

É claro que Kamala Harris tem fraquezas significativas: não foi vista pelos americanos como uma vice-presidente de sucesso, é tão impopular como Biden e há a questão básica de saber se a América está pronta para eleger uma mulher negra e asiático-americana como Presidente. Não é particularmente eficaz na mobilização de multidões com discursos inspiradores e, em sondagens recentes, tem ficado atrás de Trump, embora por uma margem menor do que Biden. E a história americana sugere que as mudanças de última hora na escolha de um candidato presidencial favoreçam quase sempre o partido adversário. O caminho para o sucesso do Partido Democrata e da sua nova candidata Kamala Harris, e para o vice-presidente que ela escolherá, é árduo.

Mas esta eleição é especial: Kamala Harris vai concorrer contra Donald Trump, que, apesar de ter consolidado totalmente o seu controlo sobre o Partido Republicano, continua a ser visto de forma desfavorável por 54% dos americanos. A eleição entre Trump e Biden foi entre dois candidatos muito conhecidos e fracos, nenhum deles apreciado pela maioria dos americanos. Agora é um jogo totalmente diferente, entre um candidato ainda fraco, Trump, e uma nova candidata, que não é tão conhecida e que nunca antes foi colocada na situação de herdar a liderança de um dos dois partidos que controlam a política americana. A forma como ela lidar com esta nova responsabilidade nas próximas semanas será fundamental para o resultado da corrida.

Esta eleição presidencial já nos proporcionou muito mais surpresas do que poderíamos ter previsto, e ainda temos 15 semanas até à votação, tempo de sobra para outras surpresas. É impossível prever com confiança o que vai acontecer durante estes próximos três meses e meio, mas arrisco-me a fazer as seguintes previsões:

  • Que o Partido Democrata se unirá imediata e fortemente em torno da candidatura de Kamala Harris;
  • Que Kamala Harris será muito melhor candidata a Presidente do que a vice-presidente, pois as competências necessárias são muito diferentes;
  • Será uma luta árdua e suja, mas Kamala Harris aguentará a sua luta contra Donald Trump. Como ex-procuradora-geral da Califórnia, tem o historial e as capacidades para ser muito boa a atacar Trump e a defender o historial e o programa do Partido Democrata numa luta de rua deste tipo;
  • Será uma eleição muito renhida, muito mais renhida do que preveem as sondagens atuais, que indicam uma vitória relativamente clara de Trump. Esta eleição, tal como as duas últimas presidenciais, será decidida por um pequeno número de eleitores atualmente indecisos em alguns swing states, que terão o poder de escolher o próximo Presidente dos Estados Unidos e que decidirão qual dos dois candidatos é o menos atraente.

Patrick Siegler-Lathrop é um empresário franco-americano a viver em Portugal há 15 anos, autor de “Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Political System” e atual presidente do American Club of Lisbon. As opiniões expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor, não sendo de forma alguma atribuíveis ao American Club of Lisbon. Pode ser contactado através de PSL64@icloud.com