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Opinião

Corrupção estratégica – recentrar a agenda anticorrupção

Reduzir a problemática da corrupção à “obtenção de ganho privado através de abuso de poder confiado”, ignorando o seu caráter transnacional e geoestratégico, considerando o seu impacto negativo na segurança dos direitos humanos e dos próprios Estados, é equivalente a assobiar para o lado ou fazer check num problema a subir constantemente nos rankings da perceção da corrupção, não a encará-lo de modo sério

Na espuma dos dias de campanha eleitoral, parece que a batuta no que concerne à agenda anticorrupção em Portugal, anda descompassada da música que toca a nível internacional, a qual incide, queira-se ou não, indelével, na nossa vida.

O (também ele descompassado) calendário político atual atrasou dramaticamente o que devia já estar, neste conspecto, a ser feito. Relembra-se que a Estratégia Nacional Anticorrupção (2020-2024) devia estar já planeada e, pelo menos, em vias de ser publicada, porém, estamos na estaca zero.

Malgrado esta condição perversa, soma-se o prometido pelo panorama partidário, uns com melhor hálito que outros – um discurso programático centrado na regulação do lóbi e na criminalização do enriquecimento ilícito – temas há muito legislados na maioria dos países europeus. O que prova o nosso atraso crónico e uma insuportável indolência, da qual já o saudoso Eça se queixava.