Opinião

Gosto das coisas ao natural

Temos o direito de escolher o que comemos e o que apoiamos? Que estilo de vida queremos viver e ensinar aos nossos filhos? Parece haver liberdade de opção para uns e não para outros

Há tendência nos tempos em que vivemos de ter coisas ao natural. Produtos sem químicos, maquilhagem “vegan”, roupa de algodão puro ou de bambu.

Gosto imenso de saber a origem da carne e de promover agricultores locais, se puder. Os meus pais nasceram nos Açores, terra onde as vacas são mais felizes (ou eram, que já vai mudando). Eu nasci na Califórnia, terra onde se produz vinho, há amêndoas e nozes, morangos, abacates, etc. etc., e muito de tudo isso é ao natural. A algumas pessoas não interessa saber a origem da carne e dão preferência ao preço mais baixo do produto. Outras gostam sem glúten, sem açúcar, sem lacticínios. Temos o direito de escolher o que comemos e o que apoiamos? Posso ter a minha opinião de que a carne faz bem e gosto de a comer? Alguns globalistas no World Economic Forum (WEF) acham que não e que devem dizer o que é melhor para as pessoas comerem, de acordo com as “necessidades” do planeta. Alguns governos estão a pôr restrições aos agricultores, e muitos se manifestam em países europeus perto de nós, vendo o seu negócio arruinado por “medidas contra a poluição”.

No parto, há uma tendência também de o tornar mais ao natural e humanizado. Foi-se do 8 ao 80: de partos em casa há 100 anos sem meios para salvar mães e bebés se surgissem complicações, para o parto atual extremamente instrumentalizado e hospitalizado sem outras opções. Se quero ter um parto mais natural, tenho direito? O governo português acha que não, dificultando medidas sugeridas por médicos. Deixa maternidades fecharem e não autoriza centros de parto natural, como há noutros países.

Tenho tendência para gostar das coisas mais ao natural. Não considero uma preferência aleatória, mas tenho estudo e entendimento por detrás do estilo de vida que procuro. Há muitos anos que há uma linha de continuidade de ideias que nos diz que o mundo é inteligível, está bem feito e que existe uma lei natural. Porquê 2+2=4? Porquê a lei da gravidade? Essa linha condutora diz que tudo tem ordem e é inteligível porque foi feito por um criador. Ou se percebe que há uma origem inteligível da natureza, ou se confundo a criação com o criador e passa-se a adorar a criação. Tenho direito a ter as minhas ideias, que vão de acordo com a lei natural?

Procurar a ordem e significado da vida já é educação. Os gregos tinham uma palavra para educação, especialmente para os mais novos, que era mousikê. Existe uma música maior, que me antecede e me seguirá, e a educação é pôr-me em harmonia com essa música.

Gosto da família ao natural. Do homem como está feito e a mulher como está feita. Podemos ter os estilos todos possíveis de imaginar e as ideias completamente diferentes uns de os outros (e ainda bem, assim dialogamos e aprendemos uns com os outros), mas partilhamos a humanidade. Acho que uma criança tem direito ao pai e à mãe natural dela, a não ser por casos muito excecionais de abuso ou de vícios. Se não, vai naturalmente querer procurar a sua origem biológica em adulto. Faz falta. Tem direito a irmãos naturais, se possível, pois a fertilidade não é uma maldição nem uma doença para se tratar. Será ideal para a criança que os pais se mantivessem juntos e felizes. Claro que a vida nunca é ideal, mas vê-se que foi feita para ser assim. Se nos pusermos em harmonia com a mousikê, lei natural, seremos mais felizes.

Gosto de criar os meus filhos ao natural. Que tenham o maior contacto com a natureza possível. Que trepem às árvores, saibam nomes de flores e estudem animais. Não lhes quero ensinar que possam ter nascido num corpo errado e que serão mais felizes se tomarem hormonas e mutilarem o corpo com operações. Se não estão convencidos que isto nunca fará uma criança ou um adulto feliz, basta ver quanto a taxa de suicídio sobe para pessoas que tiveram estas intervenções. Basta ver testemunhos de que nunca tiveram uma vida sexual natural e satisfatória. Os novos “órgãos genitais” não são funcionais nem dão prazer. Terão problemas graves médicos para o resto da vida, terão que tomar sempre medicamentos e morrerão muito mais cedo.

Tenho direito de criar os meus filhos de acordo com as minhas ideias? Pelos vistos, não. Já chegou a França e não tarda chegar a Portugal. A ministra de educação francesa tem filhos num colégio católico e retirou-se duma investigação do Estado a esse colégio, para não a influenciar. Essa investigação averiguou que o colégio ensinava ideias “homofóbicas” e “sexistas” e que ia contra a lei francesa ao obrigar os alunos a uma hora de religião católica por semana. Não posso ensinar as minhas ideias aos meus filhos, coincidentes com uma religião que tem 2000 anos, e escolher um colégio que partilha os meus ideais? Há ideias aprovadas pelo Estado e outras ideias e religiões não toleradas pelo Estado?

Por acaso, foi a Igreja Católica que criou as primeiras universidades na Idade Média. A Universidade de Coimbra foi instituída, na “Idade das Trevas”, no século XIII. São Tomás de Aquino, uma das mentes mais brilhantes de sempre, que viveu também no século XIII, criou o método argumentativo: a evolução das questões disputadas como método de ensino. Debatia com ateus e muçulmanos; havia respeito, verdadeiro pensamento e troca de ideias. Eram amigos com ideias diferentes. As universidades, e estendo isto para as escolas secundárias e primárias, são feitas para trocar, discutir e aprender ideias diferentes. Neste caso de França: minha ideia não pode ser ensinada porque o outro não concorda com ela?

Muitos países europeus vão revelando estas censuras e proibições, e o governo mundial que se vai formando anualmente no encontro do WEF também pretende pôr programas e sanções no mundo, partindo das suas ideologias. Parecem todos seguir o ditado em inglês: “Rules for thee and not for me” (regras que se aplicam a ti e não a mim). Há liberdade de opção só para alguns.