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Opinião

Fervores e curiosidades do obscurantismo

O livro de Copérnico, “esse mesmo”, a ciência que resultava do pensamento livre baseado em factos, só foi autorizado pelo Vaticano cerca de 300 anos depois da sua publicação

Enlevado pelo seu fervor religioso, um cronista, Gomes Sanches, abalançou-se a destroçar os que “acusam a Igreja de obscurantismo” e que, para tal, se atrevem a fazer “tabula rasa a (...) Nicolau Copérnico (esse mesmo)” e outros, “todos sacerdotes católicos” que, entre outras maravilhas, produziram “a teoria heliocêntrica e o desenvolvimento da astronomia moderna”. A segunda parte é exata: Copérnico, cónego na catedral de Frombork, foi o criador da teoria heliocêntrica. No entanto, a sua história desmente a primeira parte daquela afirmação: “esse mesmo” adiou durante toda a sua vida a publicação do seu livro por temer a sua própria Igreja, ao passo que Bruno foi queimado na fogueira da Inquisição e Galileu condenado a prisão domiciliária perpétua.

A teoria de Copérnico foi criada cedo. Em 1514 divulgou entre amigos um anónimo “Pequeno Comentário” de uma trintena de páginas, com o seu modelo do sistema solar: a Lua é o satélite da Terra, cuja órbita rodeia o Sol, tal como os outros planetas, e as estrelas são fixas. No entanto, recusou-se a publicar esse texto. Vinte e cinco anos depois, um jovem astrónomo da Universidade de Wittenberg, o luterano Georg Rheticus, foi ter com ele e tomou a iniciativa de editar um resumo desta teoria, a “Primeira Narração”. Copérnico tinha então quase 70 anos.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.