Opinião

Medina continua. Quantos mais andam por aí?

Embora neste episódio a TAP vá recuperar o dinheiro que tinha sido esbanjado com a indemnização da ex-administradora, quantos mais casos terão existido sem que o Estado tenha sido ressarcido? Quantas mais Alexandras Reis existirão no país? E quantos mais dirigentes políticos continuarão impunes após decisões inadmissíveis? Quantos mais Fernandos Medinas andarão por aí?

Os ministros que tutelam a TAP - Finanças e Infraestruturas - falaram esta segunda-feira para anunciar as conclusões do relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) sobre o caso da indemnização milionária da TAP a Alexandra Reis. No entanto, nenhum deles deu uma grande novidade aos portugueses, pois desde que foi conhecido este escândalo já todos suspeitavam de que aquele acordo continha irregularidades.

Por isso, quando Fernando Medina começou a enunciar as conclusões da IGF e, em concreto, que o acordo era nulo e que, por conseguinte, Alexandra Reis teria de devolver grande parte do valor recebido a título de indemnização à TAP, a notícia foi recebida com grande naturalidade.

Aproveitando a ocasião e apesar do tom contido, Fernando Medina e João Galamba não se inibiram de despedir por justa causa em direto o chairman da TAP, Manuel Beja, assim como a CEO, Christine Ourmières-Widener, responsabilizando-os diretamente pelo acordo que veio a confirmar-se ser irregular.

Logo de seguida os ministros anunciaram que o novo CEO da companhia aérea será Luís Rodrigues, que vai acumular essa função com a de chairman, naquilo que foi um fantástico progresso, já que para nomear a antecessora foram precisos longos meses. Curioso também o facto de que, afinal, a experiência internacional passou a não ter relevância nenhuma, quando tinha sido fundamental para a escolha de Christine Ourmières-Widener. E é igualmente interessante que, até aqui, ter um chairman e um CEO fosse o único modelo capaz de funcionar e, de repente, os dois cargos possam estar concentrados numa só pessoa.

Nada como uma empresa do Estado gerida por um governo do Partido Socialista para percebermos o quão desastrosa consegue ser a gestão pública.

E, por isso, a grande surpresa da conferência de imprensa não foi a declaração de nulidade do acordo. Nem o despedimento do chairman ou da CEO. Nem mesmo a contratação de Luís Rodrigues, ainda que agora seja preciso resolver a questão da SATA. É, sim, Fernando Medina manter-se ao leme das Finanças, uma pasta crítica para o país, com um ministro com autoridade em estado crítico.

Fernando Medina chegou ao ponto de se mostrar solidário com a indignação dos portugueses face a este caso, considerando-a justificada, mas não consegue ter um assomo de consciência para assumir a responsabilidade política por ele. É algo que podemos dar como adquirido com ele: tenha as nódoas que tiver no currículo, conte com o historial de trapalhadas que contar, nunca se sente responsável por nada. Demissão é uma palavra que não consta do vocabulário de Fernando Medina. Ou, melhor, consta - mas só se aplica a terceiros.

Medina mantém-se em funções, de pedra e cal, procurando virar a qualquer custo esta página - mais uma - de um livro (a biografia política do próprio governante) que todos estão cansados de ler. Foi Medina que assinou o despacho de nomeação de Alexandra Reis para a NAV, por indicação do Ministério das Infraestruturas; foi Medina que a recrutou para o Governo, para sua secretária de Estado do Tesouro.

Era Medina que deveria ter assumido as consequências políticas das suas decisões. Só que, lamentavelmente, já ninguém fica admirado quando um ministro socialista não assume as consequências políticas dos seus atos ou das suas omissões, por mais desastrosos que sejam, por mais pesados que sejam os custos para os portugueses.

Embora neste episódio a TAP vá recuperar o dinheiro que tinha sido esbanjado com a indemnização da ex-administradora, quantos mais casos terão existido sem que o Estado tenha sido ressarcido? Quantas mais Alexandras Reis existirão no país? E quantos mais dirigentes políticos continuarão impunes após decisões inadmissíveis? Quantos mais Fernandos Medinas andarão por aí?