Na passada 5ª feira, a Ministra da Presidência tirou da cartola duas medidas para (com pesadas multas para quem não cumpra) serem aplicadas menos de dois dias depois:
a) Hotéis e alojamento local (em todo o País) não podem aceitar hóspedes que não tenham as duas tomas da vacina há mais de 14 dias ou que não façam um de vários tipos de teste;
b) Restaurantes em 33 concelhos, sobretudo os mais populosos, não podem receber clientes (que não seja em esplanadas) sem que a mesma regra dos hotéis se aplique para refeições na 6ª feira ao jantar, no fim de semana e nos feriados.
Nada disto faz qualquer sentido. E revela desnorte, negociações dentro do Governo ou pura loucura à solta.
VER OS FACTOS SERENAMENTE
A Ministra não deu uma única explicação para a mudança nos hotéis. O que me deixa estupefacto: nunca houve a menor limitação para hotéis (que não fossem os cuidados habituais), mesmo nas piores fases da pandemia, quando se não sabia nada e não havia remédios, testes nem vacinas para a combater.
Mas a medida é para quem faz o check in e depois, se ficar uma semana ou mais, nada tem de fazer, pois se a infeção não vem antes ela desiste...
A Ministra – com um ar vendido… - deu uma brevíssima explicação para restaurantes: a teoria de que ao fim de semana o tipo de clientes propaga mais o vírus. Mas, curiosamente, isso não se aplica aos cafés nem pastelarias, mesmo que pessoas se sentem em mesas a comer horas a fio.
Tanta gente já falou dos alucinados disparates com os autotestes, que me limito a remeter para a Google (vejam rapidamente, antes que as críticas sejam apagadas…)
Vejamos agora alguns gráficos e slides para demonstrar que nada disto faz qualquer sentido:
Em primeiro lugar, um gráfico que revela a evolução dos casos confirmados e dos óbitos desde março de 2020 (início da pandemia) até agora:
Em segundo lugar, um gráfico com a evolução dos internados e entre eles os em UCI no mesmo período:
Estes dois gráficos revelam que de Outubro a Fevereiro talvez fizessem sentido as medidas agora tomadas, mas seguramente que depois de Março são, na melhor das hipóteses, uma estupidez.
Para essa conclusão veja-se a evolução do número de vacinas administradas (dose total ou uma única dose):
Para quem ainda tenha dúvidas, veja-se a comparação entre os valores máximos nas várias vagas e com a realidade atual:
Finalmente, a evolução dos óbitos nos últimos meses e por faixa etária (hoje morreu uma pessoa entre os 30 e 39 anos) para se ver bem a realidade para os menores de 50 (que são 58% dos portugueses) e com isso perceber que a lógica da proibição e do pânico não pode nunca funcionar eles:
E também que contextualizar as mortes com Covid em mais de 4 meses, se comparadas com o total de 16 meses de pandemia e com o total de mortes em Portugal nestes 5 meses:
CAUSAS, OBJETIVOS, CONSEQUÊNCIAS
Esta estratégia governamental, tão obviamente absurda, tem causas. Tem objetivos. Tem consequências. E não serve para nada.
Entre as causas:
a) acima de todas, a atmosfera – digo eu, é criminosa – que se criou à volta da Covid, como se fosse o único risco para a saúde, instilando pânico que já se sente a aumentar de novo (por exemplo, ontem uma jornalista da Rádio Observador com a voz quase a tremer anunciava um “aumento alarmante” de internados, que afinal eram em número de 57 para um total de 729, ou seja para cerca de 10% do que havia em final de Janeiro em que eram 6900);
b) depois, a ideia de que ninguém pode morrer com Covid, mas (como as televisões não falam disso) podem morrer de todas as outras causas evitáveis;
c) finalmente, o controlo da agenda política pelos autoproclamados especialistas em epidemias e covid.
Os objetivos resumem-se em poucas palavras:
(i) criar pânico que afaste as pessoas do lazer (o Ministro da Economia, como um pai tirano, disse aos meninos restaurantes nas televisões que “ou fazem testes, ou fecham”), pois o Governo não sabe que fazer quanto a situações de vida laboral e tem de fingir que faz alguma coisa,
(ii) afastar os turistas que vêm de países que enchem estádios de futebol, como vimos domingo em Wembley, na ilusão que assim diminuem os infetados,
(iii) ter apoio eleitoral dos assustados para as eleições autárquicas que estão a chegar.
As consequências são as óbvias:
a) A destruição dos pequenos restaurantes não inseridos em grandes cadeias, que já nem têm apoios do Estado (que aliás foram sempre insuficientes para aguentar os custos), perderam os poucos clientes que estavam a regressar e que por medo nem durante os dias da semana virão, que não têm capacidade para a carga burocrática exigível, e que não podem arriscar multas de 10 000 euros se algum cliente não disser a verdade ou tiver um certificado falso;
b) A destruição de pequenos hotéis e alojamento local que não têm estrutura nem condições para o esforço burocrático que lhes caiu em cima;
c) A destruição da época turística no Algarve (a Petição da Associação Comercial de Albufeira, a que tive acesso, é um grito desesperado de condenados à morte), nas Área Metropolitana de Lisboa e Porto, e no que vem aí para o resto do país com o aumento dos casos positivos ainda que não graves;
d) Como decorrência, a destruição da rede de pequenos negócios de comércio e serviços que gravitam à volta do turismo.
E, pior, isto não serve para nada. Por mais que vacinemos:
a) não conseguiremos vacinar toda a população e mesmo os vacinados podem ser infetados sem gravidade, mas contam para as estatísticas;
b) no inverno vai ser pior do que agora;
c) novas variantes vão continuar a surgir, para as quais as vacinas serão menos eficazes em termos de infeções ligeiras;
d) a crise social e económica e o seu cortejo de sofrimentos vão aumentar, afetando todos os que não estão reformados ou em teletrabalho.
E, no entanto, seria simples fazer de outro modo:
a) Abrir sem quaisquer limitações as lojas, os restaurantes, a cultura, as discotecas, para quem tenha certificado ou testes a sério,
b) Manter as regras mais rigorosas para todos os outros,
c) Promover o País com base neste conceito.
Se querem saber mais e melhor do que sou capaz de dizer, vejam uma entrevista feita ao Professor António Ferreira no Porto Canal, que explica tudo. Ele foi Presidente do CA do Centro Hospitalar de S. João e é professor da Faculdade de Medicina do Porto. Sabe do que fala e revela dados objetivos.
UM GOLPE DE ESTADO NA EDUCAÇÃO
Como se não bastasse esta pandemia, temos a pandemia dos que estão a dar cabo do ensino básico e secundário.
Depois de ter alertado há uma semana para o caso da Matemática, recebi opiniões de pessoas que exprimem a posição da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) e a dos que seguem a da Associação de Professores de Matemática (APM).
Isso permitiu-me reforçar a minha opinião e, com serenidade, digo que me revejo na posição da SPM, sem nenhuma dúvida.
Mas o pior foi que, entretanto, descobri o Despacho nº 6605-A/2021, de 6 de julho, do Secretário de Estado Adjunto e da Educação.
Basicamente, por este Despacho, são revogados todos os “documentos curriculares relativos às disciplinas do ensino básico e do ensino secundário com aprendizagens essenciais definidas”, ficando apenas a ser aplicável o sistema apelidado de “Aprendizagens Essenciais”, além de um genérico e vago documento que define o “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória”.
O que isto significa é, pura e simplesmente, a criação das condições oficiais, por via de decisão administrativa, para:
a) Um impulso à aceleração da degradação do ensino (que tendencialmente vai ser apenas focado nas “aprendizagens essenciais”),
b) a impossibilidade de comparar macro socialmente os seus resultados fora das “aprendizagens essenciais”, por exemplo em exames (pois a avaliação vai ter de incidir nesses resumos e deixa de fora a aprendizagem dos alunos com professores mais competentes e responsáveis),
c) o nivelamento por baixo da exigência aos estudantes,
d) um processo de dura desigualdade social entre escolas em função do maior ou menor facilitismo e da maior ou menor qualidade dos professores,
e) um aumento da iliteracia e com ela mais uma machadada no elevador social que o vai deixar muitíssimo pior.
Quando na passada semana citei o Professor Buescu sobre o que estava a passar-se no ensino da matemática no secundário (“voltar aos programas de 1991,… Num certo sentido, é voltar à Idade da Pedra”), desconhecia este Despacho que saíra no dia do meu programa.
Como sobre tantas outras coisas, não sou especialista em Matemática nem em Educação. E não sei também nada de Zoologia. Mas sei distinguir uma girafa de um elefante.
O que percebi, depois de fazer alguns contactos com quem sabe, é que este Despacho é a base onde se vai edificar a aceleração da destruição da qualidade do nosso ensino público (pois no privado há como remediar).
Daí o apelo que faço a todos os media, a começar pelo “Expresso”: façam debates sobre isto e evitem aqui o que não querem ou não conseguem evitar na Covid: ouvir apenas os especialistas que nos segredam o evangelho oficial.
NÃO SÃO TODOS BERARDOS OU VIEIRAS
Depois destas, mais uma outra pandemia, que são os casos que nascem como cogumelos e são cozinhados no Ticão.
Que fique claro: não tenho nada a ver com Berardo, Luis Filipe Vieira ou José António dos Santos, e admito com relativa facilidade que pode haver indícios de comportamentos desviantes, alguns deles de índole criminal, como a investigação terá de provar.
A questão é outra: é a pandemia que sinto estar a ser insuflada no sentido de que existe um paradigma de infeção generalizada no empresariado português, o que se faz com a criação de uma atmosfera de intoxicação da opinião pública, que depois tem efeitos semelhantes aos das duas pandemias que referi atrás.
A este tema voltarei no futuro.
O ELOGIO
Aos cubanos que saíram à rua a gritar “Pátria e Vida”, exercendo direito de resistência e revolta onde é mais difícil.
E, a propósito, é lamentável a forma como alguns media em Portugal tratam o assunto, de que é exemplo o “Público” de hoje (com o título “Presidente Díaz-Canel culpa os EUA entre denúncias de violência pessoal”), como se o tema não fosse a revolta popular; e o silêncio (quando não a verbalizada cumplicidade com o regime comunista) do PCP, do BE e da ala esquerda do PS.
Ana Gomes é a exceção e merece elogios por isso.
LER É O MELHOR REMÉDIO
Duas sugestões:
a) Um artigo no “EcoOnline” em 9 de julho (e o “Portal da Transparência” para onde se remete) que revela que entre os 20 maiores beneficiários de fundos estruturais do Portugal 2020 só um não é público e para estas 19 entidades foram 12,3 mil milhões de euros.
b) Também no “EcoOnline” um artigo do mesmo dia que remete para um estudo do Professor Fernando Alexandre intitulado “Avaliação dos incentivos financeiros às empresas em Portugal: QREN (2007-2013) e PT2020 (2014-2018) que revela, entre mais coisas preocupantes, que “40% do apoio total do FEDER foi para empresas que só vendem no mercado doméstico” e que uma “percentagem significativa das empresas que receberam apoios do Feder durante o QREN tinha passado para níveis de produtividade mais baixos”. O artigo cita empresários sobre isso e um deles afirma que “O histórico dos últimos quadros comunitários evidencia que Portugal desperdiçou literalmente esses fundos”.
Há, portanto, que temer o pior com a bazuca hoje aprovada.
A PERGUNTA SEM RESPOSTA
No dia 1 de julho, o blog do Forum para a Cidadania LX denunciava a vandalização e furto no Palácio Burnay, hoje à guarda do Ministério das Finanças
No dia 6 de julho escrevi aqui: “Quero acreditar que foi tudo retirado para restauro. Mas, se é assim, não podem esclarecer?”.
Até agora, nem uma resposta. E, já agora, a que velocidade ia o automóvel do Ministro Cabrita?
A LOUCURA MANSA
Hoje não há mais. Chegam e sobram as loucuras na luta contra a Covid e contra a educação no ensino secundário.