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Opinião

Pentecostes

O sopro vital não é apenas o oxigénio de que precisamos para existir neste instante. O sopro vital é o Espírito Santo

É duro e belo o que vem descrito pelo Evangelho de João a propósito da cena do Pentecostes. Os apóstolos estão acossados, de portas fechadas, afundados na própria incerteza, por medo do que lhes possa acontecer. E o Ressuscitado aparece, atravessando o medo deles, perfurando esse espesso medo para lhes dizer: “A paz esteja convosco.” Nesse momento, mostra-lhes as feridas provocadas pela cruz e sopra sobre eles. Este sopro deve ser lido como uma citação do momento da criação, quando Deus amassa o homem da fadiga do barro, da fragilidade da terra, e lhe insufla as narinas para que o homem se possa tornar um vivente sobre este mundo, com tudo o que isso significa. Sem cair em dicotomias fáceis, cada um de nós repete essa experiência primordial. Sentimos que há uma materialidade na vida, no corpo que somos, na forma da nossa existência sobre este mundo. Mas, ao mesmo tempo, compreendemos que não somos só isso: somos também um sopro vital, um hálito, um mistério que excede as explicações fornecidas pela pura matéria. Somos também espírito. E é esta associação de planos que faz o milagre espantoso que é a vida. Ora, o sopro vital não é apenas o oxigénio de que precisamos para existir neste instante. O sopro vital é o Espírito Santo.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.