Exclusivo

Opinião

Cortinas de fumos envolvendo o Novo Banco

O Novo Banco (NB) tem sido presença permanente no dia-a-dia dos portugueses. Só o recente crescimento do número de indivíduos infetados pela Covid 19 o atirou, momentaneamente, para segundo plano

É inequívoco que, desde o primeiro momento, todos os que, por ação ou omissão, intervieram nos destinos do NB procuraram envolvê-lo numa cortina de fumo que ofuscasse o que verdadeiramente aconteceu (está a acontecer) e o que existia (ou desapareceu). Hipocrisia e desonestidade intelectual são traços que marcam tais intervenções, a começar pelo Governo e a acabar na generalidade dos partidos com assento na Assembleia da República. Cada qual acrescenta mais umas quantas achas molhadas à fogueira, ajudando a tornar mais espessa essa cortina de fumo, ao ponto de o comum dos cidadãos já nem saber se o banco efetivamente existe ou se não passa de uma defumada ilusão.

A cortina começou a formar-se, necessariamente, no tempo do Grupo BES, quando a administração deste, com a conivência dos auditores da altura, foi procurando esconder as perdas do grupo e do banco BES. Há dias, num artigo de opinião, um cronista colocava em dúvida que os ativos (bens e direitos) que ficaram no NB estivessem realmente sobreavaliados. É óbvio que sim. Está nos livros: quando uma organização começa a ter dificuldades financeiras a primeira medida adotada para as esconder passa por reduzir o montante de imparidades e provisões a registar na contabilidade, com isso contribuindo para mostrar resultados por via da sobreavaliação dos ativos. Portanto, quando o Governo e Banco de Portugal deram à luz o NB, a partir do BES, passando para aquele o que existia de “bom” neste, os ativos “bons” estavam empolados, registados acima do seu valor de mercado. Naquele fim de semana de todas as decisões, em que decorreu a cisão do BES, a cortina de fumo que tudo envolvia não terá permitido uma adequada perceção da realidade. E se nessa altura tal perceção minimamente existia não devem ter existido condições, políticas e financeiras, para limpar desde logo o que de podre existia em tais ativos “bons”. Porém, em vez de se explicar isso aos portugueses, optou-se por alimentar a cortina de fumo, para tornar tudo (ainda) mais opaco.