Exclusivo

Luanda Leaks

Luanda Leaks. Os facilitadores ocidentais que ajudaram a filha de um autocrata a construir uma fortuna

Isabel dos Santos criou um império que movimenta milhares de milhões de dinheiro suspeito. Auditores e consultores tornaram tudo possível

Stephane Cardinale - Corbis

Ben Hallman, Kyra Gurney, Scilla Alecci e Max de Haldevang (Consórcio Internacional de Jornalistas de investigação)

Parada à entrada de uma festa repleta de estrelas no Festival de Cinema de Cannes, o ícone dos anos 90 Sharon Stone mostrou a sua pulseira exclusiva. Era uma pulseira em forma de hipopótamo, com olhos de rubis, narinas de safiras e dentes de diamantes brancos. O corpo estava coberto de diamantes castanhos, cinzentos e brancos.

O ornamento deslumbrante era uma criação da De Grisogono, uma empresa suíça de joalharia de luxo, e o anfitrião do exclusivo evento, no Hotel du Cap-Eden-Roc na Riviera Francesa.

De Grisogono já tinha dado festas em Cannes antes. Mas esta, em maio de 2013, foi particularmente sumptuosa, com um espetáculo de fogo de artificio e uma orquestra a entreter os convidados enquanto observavam as vistas. A apoiar as festividades: o Governo de Angola, um país com um dos índices de pobreza mais elevados do mundo.

A empresa estatal de diamantes e um empresário congolês casado com Isabel dos Santos, filha do então Presidente do país, tinham comprado as participações de controlo da empresa de joalharia no ano anterior. Os novos gestores, incluindo antigos trabalhadores do gigante de gestão e consultoria Boston Consulting Group, que tinha ajudado a gerir brevemente a empresa de joalharia, esperavam que a festa ajudasse a aumentar as vendas há muito em declínio. Stone era a “embaixadora” do ano, uma estrela com brilho suficiente para atrair os ricos e famosos a comprar um enfeite da De Grisogono.

O plano falhou. A De Grisogono só vendeu 5,6 milhões de dólares em produtos através de vendas privadas em 2013, muito aquém dos 33 milhões de dólares esperados, e contraiu cada vez mais dívida. A empresa estatal angolana de diamantes teme agora que o investimento de 120 milhões de dólares tenha desaparecido para sempre.