Em março de 2015, a inauguração da exposição “You Love Me, You Love Me Not”, na Galeria Municipal do Porto, nos Jardins do Palácio de Cristal, teve pompa e circunstância. Deveria ser apenas um primeiro passo de aproximação entre a Fundação de Sindika Dokolo, o marido da empresária Isabel dos Santos, e o município portuense.
Para além do patrono, detentor daquela que será a maior coleção de arte contemporânea africana – teria então cerca de 3.500 obras – , estiveram presentes a mulher, o presidente Rui Moreira e também Manuel Pizarro, do PS, que então estava coligado com Moreira para assegurar a governação da cidade. Antes Sindika Dokolo tinha recebido a medalha de ouro da cidade e, numa entrevista ao “Sol”, dizia que o objetivo era o estabelecimento de “um eixo cultural estratégico entre o Porto e Luanda”.
Passados quase cinco anos, nada se materializou. Contactada pelo Expresso, fonte da Câmara Municipal do Porto assegura que não há qualquer “apoio ou participação” em atividades da fundação e que não há “nada em cima da mesa” em análise. Para além disso, a autarquia desconhece qual o estado atual do projeto de instalação na cidade da sede europeia da instituição.
Em 2016, foi noticiado que a Fundação, através da sociedade Supreme Treasure – uma empresa que pelo menos à época era dirigida por Mário Leite da Silva, considerado o braço-direito de Isabel dos Santos – comprou o edifício destinado inicialmente à Casa Manoel de Oliveira, desenhado por Souto Moura, para aí instalar a sua sede europeia
A última declaração de algum responsável sobre o edifício – comprado em hasta pública, por 1,58 milhões de euros – data de novembro de 2018 e foi estampada no “Público”. Garantia-se que o espaço não estava abandonado, mas não se anunciavam datas para a abertura. O Expresso tentou por várias formas contactar algum responsável da fundação, mas tal ainda não foi possível.
Paulo Cunha e Silva era o pivô da parceria, esclarece a Câmara
Fonte da Câmara do Porto explica que a morte do então vereador da cultura, Paulo Cunha e Silva, em novembro de 2015, justifica o quebrar das ligações entre as partes, visto que seria o grande mentor da parceria. No entanto, o auge na relação institucional parece ter sido atingido posteriormente, em fevereiro de 2016.
Rui Moreira visitou então Luanda durante dois dias, a convite da fundação, e sublinhava, citado pela Lusa, que se tratava do “melhor exemplo de uma cooperação profícua”. A realização de uma exposição dedicada à arte Tchokwe - povo originário do interior norte de Angola e do sul da República Democrática do Congo - seria concretizada “muito brevemente" e o arquivo da autarquia estaria ao dispor. Entretanto a relação entre Sindika Dokolo e a Câmara do Porto parece ter esfriado e não será agora uma prioridade para nenhuma das partes.
Quanto à medalha entregue a Sindika Dokolo – com unanimidade entre o executivo municipal e uma larga maioria a favor na Assembleia –, a Câmara do Porto garantiu ao “Público” que a sua retirada “não se coloca”. O assunto gerou então alguma polémica, que o próprio Sindika comentou então ao “Sol”: “No domínio da arte não é muito bom que haja uma lógica estalinista de votação. Um projecto inovador cria sempre debate e acho que o contraditório é muito importante.(...) Não me cabe a mim entrar nessas considerações”.