Luanda Leaks

Luanda Leaks: Brito Pereira tinha uma procuração que lhe dava plenos poderes na Matter Solutions mas garante que nunca a usou

"Não tenho, nem nunca tive, qualquer acção nessa sociedade, nunca ocupei qualquer cargo nos órgãos sociais, nunca movimentei qualquer conta bancária e, em suma, nunca tive qualquer intervenção que não a de constituir formalmente a sociedade", afirma Jorge Brito Pereira, o principal advogado de Isabel dos Santos em Portugal. A empresa tinha como diretora e única acionista aparece registada a portuguesa Paula Oliveira e Brito Pereira tinha uma procuração com plenos poderes

António Pedro Ferreira

Jorge Brito Pereira, advogado de Isabel dos Santos desde 2006 e assessor jurídico de várias operações que a investidora fez em Portugal, assegura que a sua participação na Matter Business Solutions, empresa usada para transferir, de forma oculta, pelo menos 115 milhões de euros da Sonangol para o Dubai, não foi para além de representar a acionista única Paula Oliveira na constituição formal da sociedade. O Expresso noticiou no âmbito de uma investigação Expresso/SIC, coordenada por ICIJ, que as transferências da Sonangol tiveram como destino uma conta bancária de uma companhia offshore, a Matter Business Solutions, controlada pelo principal advogado da empresária angolana, que tinha uma procuração que lhe dava plenos poderes, inclusive para contratar pessoas, para fazer empréstimos ou abrir e fechar contas nos Emirates Árabes Unidos ou fora, mas Brito Pereira garante que nunca a usou.

"Não tenho, nem nunca tive, qualquer acção nessa sociedade, nunca ocupei qualquer cargo nos órgãos sociais, nunca movimentei qualquer conta bancária e, em suma, nunca tive qualquer intervenção que não a de constituir formalmente a sociedade, com os poderes que me foram conferidos pela sua acionista única, no exercício da minha profissão de advogado", afirma Jorge Brito Pereira, numa declaração enviada ao Expresso. E acrescenta: "A procuração que consta da notícia corresponde a um documento geral e standartizado que, efetivamente, me confere um conjunto de poderes latos e abrangentes, os quais, sem prejuízo, nunca foram por qualquer forma – para além do ato de constituição formal da sociedade, repito - exercidos".

O Expresso conta na investigação publicada no domingo que o "esquema de ocultação começou a ser montado a seguir à filha do ex-Presidente de Angola ter sido nomeada pelo pai para liderar a petrolífera estatal". Informação extraída de documentos e testemunhos obtidos numa investigação Expresso/SIC, coordenada pelo consórcio ICIJ e com a participação de mais 34 órgãos de comunicação social de todo o mundo, e que mostram como isso envolveu um contrato celebrado no Reino Unido e teve a cumplicidade de vários portugueses, incluindo do atual chairman da NOS, o advogado Jorge Brito Pereira".

No intervalo de apenas seis meses, de maio a novembro de 2017, no último terço do seu mandato à frente da Sonangol, Isabel dos Santos fez com que a petrolífera estatal angolana para a qual tinha sido nomeada pelo pai, quando José Eduardo dos Santos era ainda presidente de Angola, transferisse pelo menos 115 milhões de dólares de fundos públicos para o Dubai, conta o Expresso.

Justificadas como pagamento de serviços de consultoria prestados à Sonangol, essas transferências tiveram como destino uma conta bancária de uma companhia offshore, a Matter Business Solutions, controlada pelo principal advogado da empresária angolana, o português Jorge Brito Pereira, sócio da Uría Menéndez, o escritório de Proença de Carvalho.

A companhia offshore do Dubai contratada por Isabel dos Santos enquanto presidente do conselho de administração da petrolífera estatal angolana tinha, além disso, como diretor o seu principal gestor de negócios, Mário Leite da Silva, e também como diretora e única acionista declarada às autoridades do Dubai a portuguesa Paula Oliveira, amiga próxima e sócia da filha do ex-chefe de Estado angolano noutras sociedades.

Jorge Brito Pereira é presidente do conselho de administração da NOS, a administrador da joalharia suíça De Grisogono e presidente da assembleia geral de várias instituições, incluindo a Efacec Power Solutions e os bancos BIC e BFA, onde representa em todas elas os interesses da empresária angolana e do seu marido, Sindika Dokolo.

"Durante o dia de ontem, o jornal “Expresso” publicou diversas notícias em que refere, em mais que uma passagem, a propósito da sociedade Matter Business Solutions, que a mesma seria “controlada” por mim. Não devo comentar publicamente matérias que estão sujeitas a sigilo profissional mas, neste ponto concreto, não posso deixar de assinalar que tal informação é em absoluto falsa", subinha Brito Pereira.