Apoiantes da Liga de Defesa inglesa, movimento de extrema-direita e anti-islâmico, atacaram a mesquita onde decorria uma vigília pela morte das três crianças esfaqueadas num evento de dança, em Southport, localidade costeira no norte de Inglaterra, perto de Liverpool. A possível relação? Especulações feitas nas redes sociais de que o atacante era muçulmano e migrante.
Três meninas com seis, sete e nove anos — a mais velha era portuguesa — foram mortas, segunda-feira, num ataque com faca, enquanto participavam numa festa numa escola de dança inspirado pela cantora Taylor Swift, para crianças entre os seis e os 11 anos. Outros oito menores e dois adultos ficaram feridos. O autor do esfaqueamento é um adolescente de 17 anos, que foi detido pela polícia no local, e cuja identificação não pode ser revelada por motivos legais.
Na noite de terça-feira, um grupo de “bandidos violentos de fora da cidade” de Southport, assim descritos pelo primeiro-ministro britânico, “apoderou-se da vigília pelas vítimas com violência e brutalidade”. Segundo Keir Starmer, o grupo “insultou a comunidade que está de luto”, mas o governante trabalhista assegura que “sentiram toda a força da lei”.
Pelo menos 53 agentes e três cães-polícias ficaram feridos, informou o Serviço de Ambulâncias inglês. O vice-comissário da polícia de Merseyside, Alex Goss, detalhou em comunicado citado pela agência Reuters que “os criminosos destruíram muros dos jardins para poderem usar os tijolos para atacar os agentes, incendiaram carros pertencentes ao público e danificaram outros veículos estacionados no parque de estacionamento da mesquita”. Foram feitas, para já, quatro detenções.
“Não é forma de tratar uma comunidade”
Goss condenou a “violência grave” que os polícias enfrentaram em Southport e o desrespeito para com o luto dos familiares das vítimas. “Não é forma de tratar uma comunidade, sobretudo uma comunidade que ainda está a recuperar dos acontecimentos de segunda-feira”, acrescentou, em declarações à imprensa local.
A Liga da Defesa Inglesa é um movimento de extrema-direita que diz querer travar a “propagação do islamismo” no Reino Unido. Depois de terem sido partilhadas informações erradas nas redes sociais que sugeriam que o jovem de 17 anos era muçulmano, o grupo decidiu atacar, reunindo-se do lado de fora da mesquita, avança o jornal britânico “The Independent”.
A ministra do Interior britânica, Yvette Cooper, já alertara para a “desinformação prejudicial” que está a circular “na Internet” sobre o esfaqueamento. “A polícia de Merseyside está a conduzir uma investigação criminal extremamente séria. Estão a ser apoiados pela polícia antiterrorista”, disse aos deputados na Câmara dos Comuns, pedindo “respeito pela comunidade de Southport e pelas famílias que estão de luto e traumatizadas”.
O deputado por Southport, Patrick Hurley, juntou-se à onda de condenações para repreender os envolvidos nos motins, que “utilizaram o terrível incidente de segunda-feira — a morte de três crianças — para os seus próprios fins políticos e, na verdade, para atacar os mesmos socorristas e a mesma polícia que tinham estado no local na segunda-feira e que, no dia seguinte, foram atingidos com tijolos por estes bandidos”. As declarações foram feitas no programa Today da BBC Radio 4, esta manhã.