O deputado britânico George Freeman, que se demitiu do cargo de ministro da Ciência do Reino Unido em novembro, diz que um dos motivos que o levou a tomar a decisão foi não conseguir pagar a hipoteca da casa - que sabia ir aumentar - apesar de auferir um salário anual de cerca de 118.300 libras (138 mil euros).
“Estava tão exausto, abatido e deprimido que começava a perder o espírito irreprimível de otimismo, de esforço, de trabalho de equipa e de progresso que são os fundamentos da realização humana”, começa por escrever Freeman numa publicação no blogue pessoal. “E porque a minha hipoteca aumenta este mês de 800 libras para 2000, que eu simplesmente não poderia pagar com um salário de ministro”, acrescenta o deputado de Mid Norfolk.
Para Freeman, que se demitiu no âmbito da remodelação do Governo liderado pelo primeiro-ministro Rishi Sunak, existe o “risco” de “fazer da política algo que só os doadores de fundos de investimento, jovens spin doctors e os sindicalistas falhados se podem dar ao luxo de fazer”.
O antigo ministro, que é deputado desde 2010, recebia um salário anual de cerca de 118 mil libras antes das deduções. Ocupou cargos ministeriais em sucessivos governos do Partido Conservador, recebendo indemnizações após a saída. Quando deixou o Governo de Boris Johnson, em julho de 2022, recebeu 7920 libras (9256 euros). Regressou ao cargo de ministro da Ciência 16 semanas mais tarde, sob a tutela de Sunak.
Os ministros com menos de 65 anos têm direito, segundo a BBC, a uma indemnização por perda de mandato no valor de um quarto do salário ministerial se deixarem o cargo e não forem nomeados para uma nova função no prazo de três semanas. Depois de deixar o Governo, que descreve como uma “amante cruel”, Freeman diz que agora tem “a maior liberdade de todas – falar e escrever e conversar abertamente” sobre aquilo que aprendeu e o que considera necessário fazer para “dar a volta à economia” do país.
Além do salário de aproximadamente 86.500 libras (101 mil euros) enquanto deputado, pode aceitar um segundo emprego, sujeito à aprovação do Comité Consultivo para as Nomeações Empresariais, aponta a BBC. Freeman divorciou-se em 2014 e paga pensão de alimentos aos dois filhos e as respetivas despesas de educação, escreve o “The Guardian”. O antigo ministro disse na segunda-feira à revista britânica “The New Statesman” que as suas finanças “não são o que eram, de todo”, depois de passar por “um divórcio muito doloroso” e com pais “que estão ambos a ficar idosos”.
Questionado sobre as declarações de Freeman, o porta-voz do primeiro-ministro disse que “há formas de fixar os salários dos deputados e dos ministros e não há planos para mudar isso”. “É correto assegurar que os salários dos ministros reflitam a situação fiscal geral”, afirmou, citado pelo “The Guardian”.