O trauma dos palestinianos é antigo, o termo clínico para esse tipo de trauma, ou pelo menos para grande parte dele, é “trauma geracional”, e talvez poucos outros povos no mundo estejam tão capacitados para entender os palestinianos como o povo judeu. É uma das realidades paradoxais que encontramos nesta guerra. “Os palestinianos são oprimidos, suprimidos e assassinados, controlados e roubados há muitas décadas. É esta a verdade”, disse recentemente, numa entrevista, Gabor Maté, judeu que perdeu os avós no Holocausto e que hoje estuda, como médico psiquiatra, os processos de trauma e luto em ambas as populações.
Mesmo excluindo as guerras entre palestinianos e israelitas dos últimos 20 anos, viver em Gaza nunca foi viver uma vida normal. Sair do território para trabalhar ou estudar deixou de ser objetivo para se tornar apenas sonho, e milhares viviam com doenças crónicas cujos sintomas poderiam ser aliviados com equipamentos médicos a que Israel impedia a entrada, receando que fossem transformados em lança-morteiros. Dos 2.1 milhões de residentes de Gaza antes da guerra, 67% são refugiados e 65% têm menos de 25 anos, segundo dados da revista científica “The Lancet”. Um estudo de 2020 mostra que 53% das crianças de Gaza tinham sintomas de stresse pós-traumático.