As primeiras 48 horas das negociações no Qatar acabaram sem qualquer acordo de cessar-fogo, mas com muitas declarações de otimismo. Estados Unidos, Egito e Qatar, os três países que estão a mediar as conversas entre Israel e o Hamas, afirmaram que o diálogo “foi sério e construtivo e decorreu num ambiente positivo”, mantendo a esperança que seja possível pôr fim à operação israelita na Faixa de Gaza e à enorme crise humanitária na região palestiniana.
As negociações vão ser retomadas na próxima semana em Doha. Mas tanto o Hamas como o Governo israelita deixaram claro que continuam a existir pontos de enorme divergência.
O Hamas nem sequer marcou presença nas reuniões, já que o seu principal negociador foi morto no Irão e o seu sucessor, Yahya Sinwar, presume-se escondido na Faixa de Gaza. Mas o grupo, que garantiu continuar atento às negociações, reiterou que só aceitará um acordo em que esteja prevista a retirada total das tropas israelitas do enclave palestiniano. Israel opõe-se, já que quer manter algum controlo no norte da região, e existe a possibilidade de os ministros mais extremistas do executivo de Telavive não aprovarem qualquer acordo de paz.
Enquanto as negociações não são retomadas, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, vai deslocar-se mais uma vez a Israel durante o fim de semana, para apoiar os esforços diplomáticos.
Em comunicado, o Departamento de Estado explicou que o principal diplomata dos EUA vai tentar “chegar a um acordo para um cessar-fogo [em Gaza] e a libertação de reféns e prisioneiros [israelitas na posse do Hamas] através da proposta de compromisso” apresentada sexta-feira pelos Estados Unidos na mais recente ronda negocial.
Primeiro-ministro palestiniano defende governo unificado em Gaza e Cisjordânia
O primeiro-ministro palestiniano, Muhamad Mustafa, defendeu que as instituições de Gaza, controladas pelo Hamas desde 2007, e da Cisjordânia, governadas pela Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), fiquem sujeitas “a uma única autoridade e governo” quando alcançada a paz.
Numa reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros de França, Stéphane Séjourné, e do Reino Unido, David Lammy, no seu gabinete em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, Mustafa agradeceu à diplomacia dos dois países europeus pelos seus esforços “para acabar com a guerra de extermínio” em Gaza e com “a escalada do exército de ocupação (israelita) e dos colonos e os seus ataques na Cisjordânia”.
Mustafa reiterou também a necessidade do apoio ao Governo da ANP para garantir a “reconstrução e unidade dos territórios”, um Estado independente palestiniano e “o fim da ocupação” israelita, a par do seu reconhecimento internacional e da sua inclusão como membro das Nações Unidas.
Segundo nota divulgada pelo Governo palestiniano, Séjourné e Lammy enfatizaram “a necessidade de alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza e a introdução de ajuda” no território palestiniano, bem como de diminuir a tensão na região face a uma possível retaliação iraniana contra Israel pela morte em Teerão do líder do Hamas, Ismail Haniyeh.
Antes, David Lammy e Stéphane Séjourné reuniram-se em Jerusalém com o homólogo israelita, Israel Katz, num dia marcado pela condenação internacional ao ataque de colonos israelitas à aldeia palestiniana de Jit, na Cisjordânia, que fez um morto e dezenas de feridos, na quinta-feira. A ONU considerou o ataque uma consequência direta da política de promoção de colonatos em território ocupado e da impunidade.
“Este ataque não é isolado e é uma consequência direta da política de colonização de Israel na Cisjordânia”, afirmou a porta-voz do Gabinete dos Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, citada pela agência espanhola EFE, acrescentando que “a impunidade é o grande problema e é isso que está a causar a violência”.
Cerca de 100 colonos encapuzados invadiram a aldeia de Jit na quinta-feira à noite, incendiaram casas e automóveis, e mataram um palestiniano de 23 anos.
Mais de 700.000 colonos vivem na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, onde colonos extremistas têm um poder alargado no Governo de coligação, que tem autorizado planos de expansão dos colonatos e a confiscação generalizada de terras. Um dos líderes da extrema-direita, Itamar Ben Gvir, ele próprio um colono, é o atual ministro da Segurança Nacional.
Outras notícias:
> O secretário-geral das Nações Unidas alertou que é impossível realizar uma campanha de vacinação contra a poliomielite na Faixa de Gaza sem um cessar-fogo. O Ministério da Saúde de Gaza anunciou hoje o primeiro caso confirmado de poliomielite no enclave, de um "bebé de dez meses que não foi vacinado" em Deir al-Balah;
> As forças norte-americanas no sul do Mar Vermelho anunciaram hoje a destruição "bem-sucedida" de uma estação militar de controlo terrestre controlada pelos rebeldes huthis do Iémen. O Comando Central dos Estados Unidos da América (CentCom), disse à agência Efe que a estação destruída estava localizada "numa zona controlada pelos huthis apoiados pelo Irão", sem dar mais pormenores sobre o local atacado.