Guerra no Médio Oriente

Forças de Israel matam especialistas palestinianos em tecnologia: o que se passou no 168.º dia de guerra

Relatório da organização “Euro-Med” indica que ataques são especificamente contra engenheiros informáticos, programadores e outros profissionais da área. EUA apelidam de “cínico” o voto da Rússia e da China no Conselho de Segurança da ONU, que chumbaram uma proposta de cessar-fogo. Este sábado há nova tentativa

RAZIA. A Faixa de Gaza está transformada num filme de terror, com prédios reduzidos a cinza e vidas interrompidas sob escombros. Para quem sobrevive, pouco mais resta do que assistir
IBRAHEEM ABU MUSTAFA / REUTERS

As forças de Israel estão a atacar especificamente e de forma sistemática dezenas de engenheiros informáticos, programadores e outros profissionais do sector tecnológico palestiniano – destruindo também os edifícios das empresas onde trabalhavam em Gaza, antes do início da guerra. A informação foi avançada esta sexta-feira pela organização de direitos humanos “Euro-Med Human Rights Monitor”.

Um desses casos é o de Haitham Muhammad Al-Nabahin, um programador conhecido no enclave que foi morto por tropas de Telavive num campo de refugiados em Bureij, a 14 de março. A sua mulher também morreu. Duas semanas antes, a casa de ambos tinha sido alvo de um ataque aéreo: as duas filhas do casal morreram com a explosão.

O relatório da Euro-Med também conta a história de Tariq Thabet, que foi morto em casa juntamente com toda a sua família poucos dias depois do início da guerra, em outubro do ano passado. Thabet era diretor da incubadora de tecnologia da Universidade da Faixa de Gaza.

A organização estima que existiam cerca de 65 empresas tecnológicas a operar em Gaza antes da guerra, empregando milhares de jovens e recém-licenciados. Agora, o Euro-Med sublinha que quase todos os edifícios que alojavam estas empresas foram destruídos ou severamente danificados – incluindo todos os centros tecnológicos ligados ao ensino superior.

Outros especialistas palestinianos que foram mortos por Israel nos últimos meses: Baraa Abdullah al-Saqqa, engenheiro especializado em software para smartphones; Muhammad al-Athal, Hamza al-Shami, Obaida Khater, Anas al-Sheikh, e Abdel Rahman Hamada – este último, assassinado na semana passada juntamente com um outro grupo de pelo menos seis especialistas palestinianos.

“Cinismo” russo e chinês trava proposta de cessar-fogo na ONU, amanhã há nova tentativa

A Rússia e a China vetaram um projeto de resolução proposto pelos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU que determinava "um cessar-fogo imediato e sustentado" na guerra de Israel contra o Hamas em Gaza. O texto recebeu 11 votos a favor, uma abstenção e três votos contra, entre eles da Rússia e da China, dois membros permanentes do Conselho de Segurança.

A resolução, proposta após mais de cinco meses de guerra, marcou a primeira vez que os Estados Unidos pediram um cessar-fogo imediato em Gaza no Conselho de Segurança, após terem vetado vários projetos de resolução apresentados por outros países.

“A resolução teve um apoio muito forte [no Conselho de Segurança], mas foi votada de forma cínica pela Rússia e pela China. Estamos a tentar mostrar à comunidade internacional a urgência do cessar-fogo”, lamentou Anthony Blinken, secretário de Estado dos EUA que nas últimas semanas se tem desdobrado em viagens – do Egito a Israel – para alcançar um acordo entre Hamas e o governo de Telavive.

Um texto alternativo a pedir o cessar-fogo vai a votos no Conselho de Segurança já este sábado. Foi apresentado por sete membros não permanentes: Argélia, Eslovénia, Guiana, Malta, Moçambique, Serra Leoa e Suíça. Exigem “um cessar-fogo humanitário imediato durante o mês do Ramadão" e a libertação imediata de todos os reféns.

Outras notícias:

> Pela segunda vez, Israel permitiu a entrada por via terrestre de ajuda humanitária na Faixa de Gaza: sete camiões de comida e outros bens essenciais entraram no enclave ontem, quinta-feira, através de uma passagem no norte do território. Só outra passagem está aberta neste momento, de um total de nove. Um relatório da ONU divulgado esta semana indica que metade da população de Gaza está em risco de fome generalizada – também porque recebem menos mantimentos do que antes da guerra.

> As forças israelitas continuam a bombardear o hospital al-Shifa, no norte de Gaza. Vários edifícios foram destruídos e incendiados nas últimas horas, incluindo o departamento de cardiologia. Além disso, foram detidos 240 doentes e ainda dez profissionais de saúde. Telavive lançou uma “operação de precisão” contra o hospital, e já matou pelo menos dez pessoas.

> Benjamin Netanyahu rejeitou os apelos norte-americanos para cancelar a prometida invasão terrestre da cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde estão milhões de palestinianos encurralados. Após falar com o secretário de Estado dos EUA, o primeiro-ministro de Israel disse que está preparado para "fazer tudo sozinho" em Rafah, se necessário.