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Guerra no Médio Oriente

Votação da ONU favorável a Gaza travará Israel? “Há hipocrisia na comunidade internacional, não conseguiu propor uma solução alternativa”

“Se Portugal se encontrasse na geografia em que Israel se encontra, presumo que estaria a agir de forma semelhante." É assim que Raphael S. Cohen, investigador na área de Ciência Política do 'think-tank' norte-americano RAND, apresenta a questão “vital” da luta pela segurança dos israelitas. O analista ainda propõe uma analogia, para explicar por que a votação da ONU, para um cessar-fogo imediato, não condiciona Telavive: “Estávamos há dois meses no Afeganistão, e a comunidade internacional tinha votado, por margens semelhantes, por um cessar-fogo no Afeganistão, mas Osama bin Laden ainda estava por lá, e a Al-Qaeda ainda estava praticamente intacta… Os Estados Unidos não teriam parado o conflito”

O representante de Israel na ONU, Gilad Erdan, expõe cartaz com a fotografia de um líder do Hamas, insinuando que dele depende o cessar-fogo
Michael M. Santiago

Quando Raphael S. Cohen chega ao aeroporto em Telavive, a primeira coisa que vê, logo à saída da rampa para a plataforma das bagagens, é a imagem de todos os reféns atualmente detidos pelo Hamas. O investigador de Ciência Política do 'think-tank' RAND, que fornece análises e informação às Forças Armadas dos Estados Unidos, conta, em tom de desabafo, que a exposição daquelas fotografias define o “clima e os interesses nacionais”, que não serão travados “por causa de uma votação na Assembleia Geral da ONU”. Cohen refere-se à votação retumbante em sede da ONU, apelando a um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza.

Ao todo, 153 Estados-membros, de entre 193, decidiram apoiar a resolução, com apenas 10 a votarem contra (incluindo os EUA, Israel e Áustria), e 23 a absterem-se (entre os quais Reino Unido e Alemanha). Mas não é esse resultado expressivo que vergará a vontade do Governo israelita de lutar pela sua “segurança”, explica o investigador, nesta entrevista ao Expresso. “É importante compreender o clima em Israel, o nível de choque, raiva e trauma. Israel só mudará de opinião quando o Hamas decidir retirar-se e deixar a Faixa de Gaza para sempre, o que não creio que seja particularmente provável.”