São ainda limitadas as informações acerca do cativeiro dos mais de 50 reféns libertados ao abrigo do acordo temporário de tréguas negociado com o Hamas, até porque a maioria das pessoas agora em liberdade encontra-se hospitalizada. Ainda assim, familiares começaram a levantar o véu daquilo que terá sido a experiência de confinamento por sete longas semanas. A agência de notícias AP fez um retrato desse cativeiro, pontuado por dormidas em cadeiras de plástico, em vez de camas, refeições de pão e arroz e filas intermináveis de horas para ir à casa de banho.
Foi Merav Raviv, que viu três familiares libertados na sexta-feira das mãos do Hamas, que contou que terão sido alimentados de forma irregular, com pão e arroz. A prima e a tia, Keren e Ruthie Munder, perderam cerca de 7 quilos cada uma. Merav Raviv adiantou também que os seus familiares dormiam em filas de cadeiras justapostas, numa sala que se assemelhava a uma “receção”, e que tinham de esperar durante horas para que pudessem ir à casa de banho.
Yaffa Adar, de 85 anos e avó de Adva Adar, também emagreceu. Só a vontade de escapar não minguou com o tempo. À AP, Adva Adar garantiu: "Ela contou os dias do seu cativeiro. Quando regressou, disse-me: 'Eu sei que estava lá há 50 dias'". Os dias foram de uma angústia agravada pelas alegações, do Hamas, de que a sua família teria morrido. Quando o cativeiro acabou, Yaffa Adar descobriu a verdade: todos tinham sobrevivido, mas a sua casa tinha sido devastada por guerrilheiros do Hamas.
Yocheved Lifshitz, também com 85 anos, foi libertada há várias semanas. Nesse momento, desvendou que tinha sido mantida em túneis que se ramificavam no subsolo de Gaza “como uma teia de aranha”. As imagens da sua libertação foram divulgadas em todo o mundo, inclusivamente as declarações que fez e que atestavam, à data, que não sofrera violência: “Os captores disseram-nos que são pessoas que acreditam no Corão e que não nos magoariam.”
O relato de Yocheved Lifshitz era de que os reféns estariam a ser bem tratados, recebendo cuidados médicos, incluindo medicamentos, e uma refeição diária de queijo, pepino e pão sírio. Os sequestradores faziam refeições semelhantes, divulgou.
Adina Moshe, de 72 anos, foi libertada na sexta-feira e o sobrinho, Eyal Nouri, confirmou que também a tia “teve de se adaptar à luz do sol”, depois de semanas passadas na “completa escuridão” de um túnel, já sem o estímulo da luz do dia e desligada do mundo exterior.
Noam e Alma Or, de 16 e 13 anos, foram confinadas num quarto, numa casa partilhada com outra mulher, conta o jornal “The Guardian”. Ahal Besorai, tio dos adolescentes, explicou que preferia não entrar em detalhes sobre a situação vivida, para não perturbar as famílias dos reféns restantes, sequestrados a 7 de outubro, mas declarou: “Foram mantidos juntos com outra senhora. Eu sei quem ela é, e eles tiveram de a deixar para trás, não a libertaram, por isso ela agora está sozinha naquele lugar esquecido por Deus.”
“Perguntei-lhes como conseguiram sobreviver, e eles disseram-me que se apoiavam nessa tríade. Quando alguém estava deprimido, os outros encorajavam e davam apoio moral." Apesar de os menores não terem sido mantidos num túnel, “aconteceram outras coisas que tornaram a experiência difícil, muito difícil”, assegurou Ahal Besorai.
“A primeira imagem que tive da Alma na tela foi dos seus olhos brilhantes e brilhantes e do seu grande sorriso. Obviamente, ela perdeu peso e parece muito, muito mais magra, mas o seu lindo sorriso e olhos brilhantes aquecem o meu coração, isso fez-me chorar”, relatou.