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Médio Oriente

Sauditas e iranianos: amigos de ocasião para apagar fogos regionais no Médio Oriente

Reaproximação dos arqui-inimigos tem potencial para reduzir a tensão na região. Mas há conflitos com dinâmicas próprias onde a paz não se impõe por decreto. Peça central no xadrez desta rivalidade, Iémen é o grande teste

Nesta ilustração, publicada originalmente no jornal digital “Opera Mundi”, muçulmanos xiitas e sunitas propagam pólvora e acendem rastilhos no Médio Oriente
ILUSTRAÇÃO Carlos Latuff

A ‘ofensiva’ da Arábia Saudita sobre o futebol europeu — prenunciada pela contratação de Cristiano Ronaldo pelo Al-Nassr — tornou-se assunto de Estado no país. Após comprar 75% dos quatro principais clubes (Al-Ahli, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Nassr), o fundo soberano saudita Public Investment Fund abriu cordões à bolsa e contratou talentos globais. Com isto tornou a popularidade do futebol uma arma de soft power com a qual este reino conservador quer ascender à primeira divisão do futebol internacional e, mais importante, impulsionar um amplo e ambicioso programa de modernização do país.

Lançada em 2016, a estratégia Visão 2030 tem por fim a diversificação da economia (reduzindo a dependência do petróleo), investimentos no sector público, captação de turismo e projeção de uma imagem positiva do país no mundo. Para ser bem-sucedida, todavia, a Arábia Saudita necessita de se livrar de algumas frentes de conflito que consomem recursos e hipotecam prestígio. Este interesse vai ao encontro de iguais urgências sentidas pelo arquirrival Irão, castigado por sanções internacionais e recorrentemente desafiado, dentro de portas, por protestos populares contra o regime.