O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, abriu a porta à troca de territórios com a Rússia, caso Donald Trump consiga que Kiev e Moscovo negoceiem o fim do conflito no país. E admitou ceder as terras que Kiev detém na região russa de Kursk - desde o lançamento de uma ofensiva há seis meses -, não adiantando, contudo, quais territórios ocupados pelos russos pediria como contrapartida.
“Trocaremos um território por outro. Não sei ainda, veremos, mas todos os nossos territórios são importantes. Não há nenhuma prioridade”, afirmou o Presidente da Ucrânia numa entrevista ao "The Guardian", confiando no esforços diplomáticos dos EUA.
Zelenksy não adiantou, assim, quais seriam os territórios em causa, mas disse acreditar que a Europa, sozinha, não é suficiente para garantir a segurança do Estado ucraniano perante a guerra com a Rússia, considerando imprescindível que os EUA de Donald Trump mantenham o apoio - financeiro e diplomático. O aviso foi feito por Zelensky, numa altura em que Kiev aguarda com expectativa a chegada de uma delegação de alto nível da administração Trump.
Donald Trump tem dito que quer terminar a guerra na Ucrânia, mas há quem receie que as intenções do novo presidente dos EUA passem por forçar a Ucrânia a capitular perante a Rússia de Vladimir Putin. Zelensky tem dito que está aberto a negociar, perante o arrastar do conflito que teve início há praticamente três anos, mas quer fazê-lo a partir de uma "posição de força" e não como o elo mais fraco. Para isso, sublinhou várias vezes durante a entrevista, quer Donald Trump do seu lado.
"Há quem diga que a Europa pode oferecer garantias de segurança sem os americanos, mas eu digo sempre que não. Garantias de segurança sem a América não são exatamente garantias de segurança", disse Zelensky ao jornal britânico. E deu mesmo o exemplo do sistema de mísseis norte-americano Patriot que é o único capaz de defender o país contra todo o tipo de mísseis. "Só os Patriot conseguem defender-nos contra todos os tipos de mísseis, só os Patriot... Por isso, só por este pequeno exemplo, dá para perceber que sem os EUA as garantias de segurança não estão completas", declarou.
Para manter Trump no barco, Zelensky afirma que está disponível para oferecer concessões de investimento e contratos de reconstrução do país a empresas norte-americanas, aliciando os EUA com as reservas de urânio e titânio que o solo ucraniano tem e que podem interessar a empresas de alta tecnologia.
Trump já fez saber, numa entrevista à Fox News, que vai querer ser reembolsado por todo o dinheiro que os EUA puseram na Ucrânia, exigindo a Kiev o equivalente a 500 mil milhões de dólares (484 mil milhões de euros, ao câmbio atual) em minerais raros usados no ramo eletrónico e alta tecnologia. “Vamos ter todo esse dinheiro lá e quero-o de volta”, afirmou Trump."Pelo menos, assim não nos sentimos estúpidos".
A Ucrânia tem das maiores reservas de urânio e titânio da Europa e isso tem suscitado o interesse dos norte-americanos. Zelensky joga essa cartada, afirmando, na mesma entrevista, que "não é do interesse dos Estados Unidos" que essas reservas vão parar às mãos da Rússia e, por consequência, da China, Irão ou Coreia do Norte. Além disso, Zelensky alicia também os EUA com dinheiro gerado pelo investimento nestes recursos naturais: "Para nós vai criar emprego, para as empresas norte-americanas vai gerar lucro", diz.
Apesar do congelamento da ajuda dos EUA, em janeiro, que levou à suspensão de vários projetos humanitários na Ucrânia, Zelensky disse não poder reclamar, uma vez que o mais importante para p país é a "ajuda militar" que se mantém. "Isso foi preservado, pelo que sou grato. Se o lado americano tiver a possibilidade e o desejo de continuar a sua missão humanitária, estamos totalmente a favor, caso contrário, então encontraremos nossa própria saída desta situação", observou.
Entre apelos com pinças e elogios à administração de Trump, o Presidente ucraniano não deixou também de deixar farpas a Biden, considerando que a hesitação inicial do ex-Presidente dos EUA em fornecer armamento ao país "deu confiança à Rússia". E rejeitou condenar as declarações menos claras de Trump quanto às negociações com a Rússia, afirmando que o Presidente dos EUA "claramente não quer que todos saibam os detalhes", sendo essa a "sua decisão pessoal."
Zelensky irá reunir-se com uma delegação da administração Trump em breve, em Kiev, mas ainda não é claro quando - ou se - irá encontrar-se com o próprio Donald Trump.