“Os nossos receios de escalada foram exagerados desde o início, a Rússia tem claramente uma tolerância extremamente elevada em relação ao número de vítimas, militares e civis.” É o que diz ao Expresso William Alberque, diretor de Estratégia, Tecnologia e Controlo de Armas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em Berlim, reagindo aos sinais de que a Casa Branca estará prestes a levantar as suas restrições à Ucrânia, para que possa utilizar armas de longo alcance, fornecidas pelo Ocidente, contra os maiores alvos militares no território russo.
O mais alto responsável para os Negócios Estrangeiros dos Estados Unidos, Antony Blinken, sugeriu, em Kiev, ao lado do seu homólogo britânico, David Lammy, que o envio de mísseis balísticos do Irão para Moscovo tinha alterado o pensamento estratégico em Londres e Washington, ao constituir uma “escalada significativa e perigosa”. Blinken garantiu ainda que as avaliações sobre a estratégia aplicada à guerra vão sendo feitas no decurso dos acontecimentos, havendo assim espaço para mudanças de posição. De acordo com o jornal “The Guardian”, Washington estará mesmo a preparar-se para permitir o uso de armamento de longo alcance fornecido pela NATO pela Ucrânia dentro da Rússia.
“A ofensiva ucraniana na região russa de Kursk faz diferença nas avaliações de risco dos aliados ocidentais, mas a resposta russa muito moderada a esta ocupação de um território não insignificante contribui para esta decisão”, contextualiza Pavel K. Baev, analista de Ciência Política do Instituto para a Paz de Oslo, em declarações ao Expresso. Ou seja: “Se Putin tivesse aumentado a parada, na sua arte prática de prosseguir uma política perigosa até aos limites da segurança antes de parar, as preocupações dos EUA e, em particular, da Alemanha, sobre os riscos de escalada poderiam ter-se intensificado. Ele não o fez, e as preocupações diminuíram.”