Guerra na Ucrânia

Putin tomou uma decisão sobre a resposta à incursão de Kursk, diz embaixador russo (912º. dia de guerra)

A promessa de “um amigo” foi o que aconteceu no primeiro encontro entre Modi e Zelensky, num momento em que o primeiro-ministro indiano viajou até Kiev. Putin já terá decidido como vai reagir à ofensiva militar ucraniana em território russo. Eis os destaques do 912º. dia de guerra

Vladimir Putin, numa videoconferência com autoridades russas
GAVRIIL GRIGOROV

Vladimir Putin já formulou aquela que será a sua resposta à incursão ucraniana na região de Kursk e os responsáveis ​​pelo ataque serão punidos, disse o embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov. "Eu digo sinceramente que o Presidente tomou uma decisão", afirmou Antonov, de acordo com a agência de notícias estatal Tass. “Estou firmemente convencido de que todos serão severamente punidos pelo que aconteceu na região de Kursk.”

Os comentários de Antonov, que não adiantou mais detalhes sobre os planos de Putin, surgiram depois de o líder do Kremlin ter realizado uma reunião, na quinta-feira, com autoridades russas, incluindo os líderes de executivos das regiões de fronteira. Já passaram mais de duas semanas após a Ucrânia ter lançado um ataque relâmpago e a maior incursão na Rússia por uma força estrangeira desde a II Guerra Mundial, e, apesar de Medvedev ter reagido, Vladimir Putin tem demorado a dar resposta.

O embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov, revelou ainda, de acordo com a agência Reuters, estar convencido de que, a dado momento, serão removidas pelos países ocidentais todas as restrições ao uso de armas fornecidas à Ucrânia. Trata-se, de resto, de algo que Volodymyr Zelensky tem vindo a pedir. "A liderança atual comporta-se como alguém que estende uma mão e segura uma adaga nas costas com a outra", comentou Antonov, aludindo aos comentários recentes de Washington sobre Kiev não ter permissão para usar armas dos EUA para ataques profundos em território russo. “Estão, essencialmente, a preparar o terreno para simplesmente remover todas as restrições existentes”, considera Anatoly Antonov.

“Embora vários aliados da NATO tenham apoiado a decisão da Ucrânia de enviar tropas para a região de Kursk, na Rússia, e embora tenham descrito a operação como uma forma legítima de autodefesa contra a guerra de agressão de Moscovo, alguns países importantes já expressaram dúvidas e sérias preocupações, pública e privadamente”, contrapõe, no entanto, Bulent Gokay, professor de relações internacionais da Universidade de Keele, no Reino Unido. “Esta é uma consequência negativa das operações de Kursk: um nível maior de divisão entre os apoiantes ocidentais de Kiev”, refere o analista britânico, em declarações ao Expresso.

De acordo com Bulent Gokay, a incursão na Rússia “inviabiliza a alegação da Ucrânia de que Kiev está a travar uma guerra para defender o seu território”. O investigador explica porquê: “A ofensiva de Kursk pode ajudar a aumentar a motivação entre os ucranianos, já que a Ucrânia não teve nenhuma grande vitória desde a recuperação de Kherson, em novembro de 2022. Também pode ser uma tentativa do Governo ucraniano de mostrar aos seus aliados ocidentais que ainda são capazes de lutar, obtendo algum tipo de vitória ou sucesso. No entanto, em termos de implicações de longo prazo, esta incursão na Rússia é tola e provocativa, especialmente num momento em que o Exército ucraniano supostamente sofre com a escassez de pessoal e munição.”

É “improvável”, na perspetiva de Gokay, que a Ucrânia continue com a ofensiva por muito mais tempo, e consiga manter o território russo. Então, trata-se “principalmente de uma demonstração de força por enquanto, mas perigosa e arriscada”, até porque a Rússia pode lançar contra-ataques, e “ninguém sabe se as tropas ucranianas conseguirão resistir ou se conseguirão recuar para um local seguro”.

“Se olharmos um pouco mais profundamente para as razões de Zelensky para esse movimento arriscado, podemos dizer que ele sabe que ficará sob crescente pressão para negociar o fim da guerra, especialmente se Donald Trump regressar à Casa Branca, após as eleições presidenciais dos EUA, em novembro. Ele teme que, se for reeleito, o candidato republicano Donald Trump corte a ajuda a Kiev e pressione o líder ucraniano a aceitar um acordo de paz com a Rússia.” Zelensky sabe que há um preço a pagar, nesse caso, e “pensa que, se puder manter algum território russo, terá algum poder nas negociações”. Uma hipótese que Bulent Gokay, professor de relações internacionais da Universidade de Keele, define como “bastante irrealista”.

Quem também voltou a falar em paz foi o primeiro-ministro indiano, que se encontra de visita à Ucrânia. Narendra Modi pediu ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para sentar-se para conversar com a Rússia, de forma a pôr fim à guerra na Ucrânia. Ofereceu-se também para agir como um amigo que ajuda a promover a paz.

Os dois líderes encontraram-se em Kiev, naquela que foi a primeira visita de um primeiro-ministro indiano na História moderna da Ucrânia. O encontro aconteceu num momento em que o impasse começa a ser desfeito, com Moscovo a obter ganhos lentos no leste da Ucrânia e Kiev a levar a cabo uma incursão transfronteiriça. A situação assemelha-se à circunstância da visita do líder indiano a Moscovo no mês passado. Naquela altura, Modi pediu paz e abraçou o Presidente russo, Vladimir Putin, irritando a Ucrânia, que sofria um ataque de mísseis russos que atingiram um hospital pediátrico no mesmo dia.

As palavras desta sexta-feira foram estas: “O caminho para a resolução só pode ser encontrado através do diálogo e da diplomacia. E devemos mobilizar-nos nessa direção, sem perder tempo. Ambos os lados devem sentar-se, frente a frente, para encontrar uma saída para esta crise.” Modi prosseguiu: “Quero garantir que a Índia está pronta para desempenhar um papel ativo em quaisquer esforços em direção à paz. Se eu puder desempenhar algum papel nisso pessoalmente, fá-lo-ei, quero garantir-vos, como um amigo.”

Zelensky disse ao primeiro-ministro indiano que o fim da guerra em termos aceitáveis para Kiev é uma questão prioritária para a Ucrânia. O líder ucraniano agradeceu a Modi a participação nas consultas internacionais da Ucrânia com países terceiros para pôr termo à guerra com a Rússia e manifestou interesse em que a Índia continue a participar no processo.

O chefe da diplomacia indiana, Subrahmanyam Jaishankar, disse aos jornalistas em Kiev que Zelensky manifestou interesse no envolvimento de Nova Deli na organização de uma nova cimeira mundial para a paz na Ucrânia.

Outras notícias a destacar:

⇒ Vários cidadãos russos saudaram o antigo líder do Grupo Wagner, Prigozhin, definindo-o como um patriota, no aniversário da sua morte. Reuniram-se num cemitério na antiga capital imperial da Rússia, São Petersburgo, para celebrar um homem que “deu a sua vida para servir o seu país”, referiram alguns dos populares, de acordo com a agência Reuters. Yevgeny Prigozhin, que liderou um golpe falhado contra Putin e uma marcha fracassada até aos arredores de Moscovo, morreu num acidente de aviação a 23 de agosto de 2023, aos 62 anos.

⇒ Os Estados Unidos anunciaram sanções contra 400 entidades e indivíduos, na Rússia e no estrangeiro, incluindo cerca de 60 empresas de tecnologia de defesa, que permitem a Moscovo "apoiar o seu esforço de guerra" na Ucrânia. As sanções agora decretadas pelos Estados Unidos da América visam empresas tecnológicas envolvidas no "apoio e desenvolvimento da indústria de defesa russa", sobretudo as que participam na produção e modernização do seu arsenal, mas também ao nível da automação, da robótica, da vigilância online e da Inteligência Artificial.

⇒ A NATO baixou o nível de segurança numa base aérea do oeste da Alemanha, onde tem aviões de vigilância do Sistema Aerotransportado de Alerta e Controlo, após tê-lo elevado esta manhã ao detetar uma potencial ameaça.