Guerra na Ucrânia

Zelensky justifica incursão e diz que Rússia “deve sentir” o mesmo, México afasta prender Putin: guerra, dia 907

O Presidente russo foi convidado a aparecer na tomada de posse da próxima líder do México, mas o Governo mexicano deixou claro que Putin pode viajar em segurança, apesar do mandato de detenção emitido pelo Tribunal Penal Internacional

SERGEY DOLZHENKO/Lusa

Depois de vários relatos e comentários do Kremlin sobre uma inédita incursão terrestre em solo russo, a Ucrânia confirmou o ataque pela primeira vez esta quinta-feira, justificando a iniciativa como uma resposta à “agressão inequívoca” da invasão da Rússia.

No seu comentário diário, divulgado nas redes sociais, o Presidente ucraniano afirmou que a incursão na região de Kursk é apenas uma retaliação pela invasão russa na Ucrânia. “A Rússia trouxe a guerra ao nosso país e deve sentir” o mesmo, defendeu Volodymyr Zelensky.

O Presidente acrescentou que os ucranianos “sabem atingir os seus objetivos, e atingir os objetivos na guerra não foi uma escolha”. “A Rússia trouxe a guerra à nossa terra e devia sentir o que isso levou. Queremos atingir os nossos objetivos o mais cedo possível em tempo de paz - sob condições de paz justas”, disse ainda Zelensky.

Antes, através das redes sociais, o conselheiro da Presidência ucraniana, Mykhailo Podolyak, foi o primeiro a reconhecer a responsabilidade de Kiev no ataque na região de Kursk, que se intensificou ao longo do dia de quarta-feira, argumentando que, no que diz respeito à Rússia, quem semeia ventos, colhe tempestades.

“Guerra é guerra, com as suas próprias regras, em que o agressor inevitavelmente lida com as consequências”, afirmou Podolyak.

A incursão ucraniana começou numa aldeia cerca de 20 quilómetros dentro de território russo, na região de Kursk, ainda na noite de terça-feira e com cerca de mil soldados. Relatórios de ‘bloggers russos’ citados pelo The Guardian dão conta de ações de forças ucranianas também esta quinta-feira.

As forças russas declararam o estado de emergência em Kursk e deram ordens de retirada de três mil civis na região, criticando a ofensiva da Ucrânia como uma “grande provocação” e notando a morte de pelo menos cinco civis.

O The Guardian nota que esta é a primeira vez que uma incursão ucraniana em território russo é levada a cabo por forças totalmente apoiadas pelo exército da Ucrânia, já que, habitualmente, estes ataques perto de Belgorod são levados a cabo por milícias russas que se opõe ao regime de Vladimir Putin.

México não impedirá Putin de assistir à posse de nova Presidente

O Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, afirmou hoje não caber ao seu Governo impedir o Presidente russo, Vladimir Putin, de assistir à posse de Claudia Sheinbaum, a 1 de outubro, caso aceite o convite enviado.

“Não podemos fazer isso, não nos cabe a nós, somos contra a guerra [da Rússia na Ucrânia], somos a favor da paz”, disse López Obrador na sua conferência de imprensa matinal, em resposta a uma pergunta.

A reação do governante mexicano surge depois da polémica gerada pelo convite geral feito pela Presidente da República eleita, Claudia Sheinbaum, a todos os Estados com os quais o México mantém relações diplomáticas, entre os quais a Rússia, para assistirem à sua cerimónia de posse, embora não se saiba ainda que países confirmaram a sua presença.

A notícia de que Sheinbaum convidou Putin para a cerimónia causou polémica na imprensa russa na terça-feira, uma vez que o Presidente russo tem um mandado de captura internacional, devido à invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), do qual o México é membro.

“A Presidente já o explicou: o México tem relações com quase todos os países do mundo”, afirmou López Obrador.

Apesar disso, descartou a presença do Equador e do Peru, porque o seu Governo tem “divergências” com ambos os Estados latino-americanos. “Agora não temos relações com o Equador, porque eles invadiram a nossa embaixada, e também não há boas relações com o Peru. Estamos a falar de Governos, mas não dos povos, porque respeitamos muito os povos irmãos do Equador e do Peru”, sublinhou.

Recordou também que foram convidados todos os Governos com os quais o México tem relações e que são estes quem decide se estarão ou não presentes, e tudo tem que ver com a política diplomática do México.

Outras notícias:

> A União Europeia defendeu que o direito da Ucrânia a proteger-se da Rússia pode incluir incursões naquele país, após a entrada de forças de Kiev na região transfronteiriça de Kursk, na terça-feira. “A Ucrânia está a travar uma guerra defensiva contra uma invasão ilegal e, no âmbito do seu direito de defesa, pode atacar o inimigo no seu território e no território inimigo”, disse o porta-voz da UE para a Política Externa, Peter Stano, na conferência de imprensa da Comissão Europeia;

> Mais de mil crianças ucranianas foram retiradas de aldeias próximas à linha da frente de Donetsk nos últimos três dias, enquanto mais de 3.700 ainda não foram colocadas em segurança, informou hoje a polícia ucraniana;

> As autoridades russófonas de Kherson, província do sul da Ucrânia em grande parte controlada pelas forças pró-russas, apelaram hoje à população para manter a calma após terem sido avistados dois aviões de combate F-16 ucranianos. O responsável governamental da localidade de Kajovka assegurou na sua conta da rede social Telegram que o exército da Ucrânia apenas efetua estas operações para “semear o pânico” e minar a moral dos cidadãos da zona.