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Guerra na Ucrânia

Ucrânia tem “uma grande estratégia”, mas tudo pode mudar com Trump: “O golpe moral pode ser tão severo que percam a vontade de lutar”

Até janeiro, o pacote de ajuda anunciado pelos EUA promete chegar para as encomendas, mas em novembro, se Trump ganhar, o revés pode ser grande. Por isso, Kiev parece estar a aproveitar o ímpeto dos 61 mil milhões de dólares enquanto é tempo

Volodymyr Zelensky e Donald Trump
Saul Loeb

Poucas são as mudanças produzidas nos últimos meses ao longo da extensa linha da frente de 1000 quilómetros na Ucrânia. O avanço recente das forças do Kremlin no leste e nordeste do país não resultou em nada mais do que ganhos territoriais modestos, tendo as forças de ambos os lados optado por atacar infraestruturas críticas, para limitar as capacidades inimigas. A guerra vai para o seu terceiro ano e o impasse continua a favorecer a Rússia, mas as perdas humanas e materiais começam a pesar. Para os ucranianos, contudo, é a política norte-americana o maior fator de instabilidade.

A Ucrânia e a Rússia mostram sinais de fadiga, e até de desintegração, admite ao Expresso Joseph Fitsanakis, professor de Estudos de Informação e Segurança na Universidade da Carolina Costal, onde também é diretor do Centro de Comando de Operações e Secretas. “A Rússia está a perder entre mil e 1200 soldados por dia, em saldo dos mortos e dos gravemente feridos. Embora este número não tenha ainda atingido níveis insustentáveis, esta situação não poderá prolongar-se por muito mais tempo sem esticar as capacidades ofensivas dos militares russos ao máximo. O facto de o número de vítimas parecer estar a aumentar progressivamente é uma péssima notícia para Moscovo.”

O Exército ucraniano enfrenta mais de 500 mil soldados russos, e, nos próximos meses, o Kremlin planeia aumentar o número em 300 mil, em parte através do recrutamento ativo de mercenários. Contudo, a Rússia está a pagar um preço bastante alto em homens e em equipamento destruído para conseguir fazer avanços graduais. Recentemente, as forças ucranianas tiveram de retirar-se da aldeia de Ocheretyne, na região de Donetsk. Retiraram-se também de Krynky, a única aldeia que a Ucrânia controlava na margem oriental do rio Dniepre, na região de Kherson, disse Dmytro Lykhoviy, porta-voz do Exército ucraniano.