Guerra na Ucrânia

Kiev assina pactos de defesa com a UE, a Lituânia e a Estónia; Rússia quer quebrar laços que ainda restam com o Ocidente (guerra, dia 854)

O Presidente ucraniano reuniu-se com os 27 líderes da UE em Bruxelas para assinar um pacto de segurança, dois dias depois de o seu país ter iniciado negociações formais de adesão ao bloco, um passo histórico que era impensável antes da invasão em grande escala, em fevereiro de 2022. Zelensky está convencido de que o acordo de segurança “consagrará o compromisso de todos os 27 Estados-membros de fornecer amplo apoio à Ucrânia, independentemente de quaisquer mudanças institucionais internas”. A Rússia, por outro lado, quer acelerar o seu processo de distanciamento do Ocidente. Eis os destaques do 854º. dia de guerra

Protesto antiguerra em Berlim
Sean Gallup

A União Europeia e dois dos seus Estados-membros, a Lituânia e a Estónia, assinaram acordos de segurança com o Presidente ucraniano. Volodymyr Zelensky, numa cimeira que se realizou em Bruxelas nesta quinta-feira. Foi estabelecido o compromisso de ajudar a Ucrânia em nove áreas da política de segurança e defesa, desde a entrega de armas e treino militar, à cooperação na indústria de defesa e à desminagem, adianta a Reuters, que teve acesso ao rascunho do documento.

Países como os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a Alemanha já tinham selado pactos semelhantes com Kiev. Não se tratando de um pacto de defesa mútua como o que une as nações da NATO, é uma promessa de fornecer à Ucrânia armas e auxílio no reforço à segurança ucraniana, de forma a dissuadir qualquer invasão futura.

"Hoje, com Volodymyr Zelensky, a UE assinou compromissos de segurança com a Ucrânia. Estes compromissos vão ajudar a Ucrânia a defender-se, a resistir a destabilizações e a dissuadir ações futuras de agressão", escreveu Charles Michel na rede social X (antigo Twitter). Na publicação, que acompanhava uma fotografia de Michel e Zelensky com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente do Conselho Europeu disse que os compromissos de segurança são "mais uma prova concreta do empenho inquebrável da UE para apoiar a Ucrânia a longo prazo".

Zelensky declarou, junto dos líderes da UE, que a ofensiva da Rússia na primavera em Kharkiv mostrou que a pressão internacional sobre o Kremlin “não era ainda suficiente”. Vladimir Putin tentou “alargar a guerra” em maio com uma nova ofensiva no leste da Ucrânia, disse o chefe de Estado. “Graças à bravura do nosso povo e às decisões de todos vós, dos nossos parceiros, travamos esta ofensiva russa. Mas esta nova ofensiva russa provou que a pressão existente sobre a Rússia não é suficiente."

Referindo-se às promessas da UE em matéria de apoio militar e munições, Zelensky acrescentou: “O cumprimento de todas as promessas é importante, não só em termos de proteção de vidas, mas também para destruir a ilusão russa de que conseguirão algo através da guerra."

Em contraste, o Kremlin adiantou, nesta quinta-feira, que a Rússia está a considerar um possível rebaixamento das relações diplomáticas com o Ocidente, devido ao envolvimento cada vez mais profundo dos Estados Unidos e dos seus aliados na guerra da Ucrânia. “A questão da redução do nível das relações diplomáticas é uma prática padrão para Estados que enfrentam manifestações hostis”, justificou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, quando questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de essa medida ser posta em marcha.

“Devido ao crescente envolvimento do Ocidente no conflito sobre a Ucrânia, a Federação Russa não pode deixar de considerar várias opções para responder a uma intervenção tão hostil do Ocidente na crise ucraniana.” Peskov disse, contudo, que ainda não foi tomada qualquer decisão sobre o assunto e que a Rússia está a considerar diferentes formas de responder ao Ocidente.

Um cidadão russo foi acusado de conspiração, pirataria e destruição de sistemas e dados de computadores na Ucrânia e em países aliados, incluindo os EUA, informou o Departamento de Justiça norte-americano na quarta-feira. Os EUA anunciaram uma recompensa de 10 milhões de dólares por informações sobre o suspeito, que continua foragido,. Antes da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, Amin Timovich Stigal, de 22 anos, tinha como alvo os sistemas e dados do Governo de Kiev sem qualquer função militar, alega o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Os sistemas informáticos nos EUA e de outros países que prestavam apoio à Ucrânia tornaram-se alvos mais tarde.

Outras notícias a destacar:

⇒ O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse estar convencido de que o governo que sairá das eleições legislativas em França manterá o apoio à Ucrânia face à Rússia. As eleições, que deverão ter primeira e segunda volta, a 30 de junho e 7 de julho em França, poderão levar ao poder o partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional (Rassemblement National), que tem sido criticado pela proximidade ao regime do Presidente russo. Zelensky considerou que, "por vontade do povo francês", o novo governo continuará "a apoiar totalmente a Ucrânia", tanto no campo de batalha como na adesão à União Europeia. Marine Le Pen questionou, no entanto, o papel do Presidente Emmanuel Macron como comandante-chefe das Forças Armadas e defendeu que algumas decisões sobre defesa cabem ao primeiro-ministro. Para Le Pen, "o Presidente não poderá enviar tropas para a Ucrânia", apesar de Macron se ter recusado a excluir essa opção.

⇒ A Rússia condenou a tentativa de golpe de Estado na Bolívia na quarta-feira, advertindo contra qualquer tentativa de ingerência estrangeira no país sul-americano. "Alertamos para as tentativas de ingerência estrangeira destrutiva nos assuntos internos da Bolívia", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, em comunicado. "Condenamos firmemente a tentativa de golpe militar", afirmou a diplomacia russa.