Guerra na Ucrânia

Envolver países da NATO? "Qual é o problema", questiona Zelensky (no 817º. dia de guerra na Ucrânia)

Os aliados ocidentais estão a demorar muito tempo a tomar decisões importantes sobre o apoio militar à Ucrânia, afirmou o Presidente do país, Volodymyr Zelensky. Na chegada a Kiev, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, também apelou: a Ucrânia precisa de reforçar urgentemente as suas defesas aéreas, face aos implacáveis ataques russos. Mas o Kremlin tem outra teoria sobre os pedidos de Zelensky. Eis os destaques do 817º. dia de guerra na Ucrânia

Volodymyr Zelensky
Yan Dobronosov/Global Images Ukraine/Getty Images

“Derrubar o que voar no céu sobre a Ucrânia”: foi uma das sugestões que o Presidente norte-americano, Volodymyr Zelensky, não hesitou em dar aos seus aliados ocidentais, numa entrevista ao jornal “The New York Times”. Mas avançou com mais: “E deem-nos as armas para usarmos contra as forças russas nas fronteiras.”

Zelensky demonstrou ter uma posição muito clara quanto ao papel do Ocidente na guerra na Ucrânia. Na perspetiva do líder ucraniano, a NATO deveria abater mísseis russos que sobrevoassem a Ucrânia, sem que os aviões cruzassem o espaço aéreo ucraniano. Seria uma tática puramente defensiva, e não representaria risco de combate direto com as forças russas, garante Volodymyr Zelensky, na mesma entrevista. “Então, a minha pergunta é: qual é o problema? Porque não podemos derrubá-los? É defesa? Sim. É um ataque à Rússia? Não. Estaríamos a abater aviões russos e a matar pilotos russos? Não. Então, qual é o problema de envolver países da NATO na guerra? Não existe esse problema.”

O envolvimento direto da NATO - ainda que o Presidente da Ucrânia não o veja assim - tem suscitado receios entre os analistas, que acreditam que Moscovo poderia encarar a interferência como uma provocação, e retaliar. Perante a potencial ameaça nuclear, as capitais ocidentais têm mostrado a mesma resistência. Porém, o alto representante ucraniano estabeleceu uma comparação com a forma como os Estados Unidos e o Reino Unido ajudaram Israel a abater uma salva de drones e mísseis, provenientes do Irão, no mês passado.

Zelensky também apelou à Aliança que forneça mais caças F-16, bem como sistemas de defesa aérea Patriot. “Podemos conseguir sete?”, atirou, dizendo que a Ucrânia precisaria de mais Patriot, mas se contentaria com esse número, para proteger regiões essenciais para a economia e o setor de energia do país.

A chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, também realçou, numa visita surpresa a Kiev, que a Ucrânia "precisa urgentemente" de mais defesa aérea face aos bombardeamentos russos na região de Kharkiv, no nordeste do país. "A situação na Ucrânia voltou a agravar-se dramaticamente com os ataques aéreos russos em massa contra infraestruturas civis e a brutal ofensiva russa na região de Kharkiv", disse Baerbock.

Já o Kremlin apresentou a sua interpretação dos pedidos do Presidente ucraniano. Volodymyr Zelensky pede ao Ocidente que se envolva mais na guerra na Ucrânia devido à situação “extremamente desfavorável” das tropas ucranianas na linha de frente, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Ao mesmo tempo, Kiev percebe que mesmo o aumento do fornecimento de armas não será suficiente para alterar a dinâmica no campo de batalha, acrescentou Peskov.

Mais de 14.000 pessoas ficaram deslocadas na região de Kharkiv, onde Moscovo lançou uma nova ofensiva em 10 de maio, anunciou a Organização Mundial de Saúde. "Mais de 14.000 pessoas foram deslocadas no espaço de poucos dias e quase 189.000 outras continuam a viver a menos de 25 quilómetros da fronteira com a Federação Russa", disse o representante da OMS na Ucrânia, Jarno Habicht. Os combates na região de Kharkiv aumentaram significativamente nas últimas duas semanas, o que levou à fuga de dezenas de milhares de residentes.

Noutro plano, a Ucrânia afirma ter destruído o último navio de guerra russo armado com mísseis de cruzeiro na Crimeia. Os militares ucranianos dizem ter realizado um ataque de longo alcance que destruiu o navio da Marinha russa Tsiklon, em Sebastopol, na noite de 19 de maio. O porta-voz da Marinha ucraniana, Dmytro Pletenchuk, refere ainda que o Tsiklon era o “último porta-mísseis de cruzeiro” da Rússia fixado na península. No entanto, o Tsiklon nunca disparou um míssil de cruzeiro enquanto esteve em serviço. A Crimeia foi anexada pela Rússia em 2014, e abriga a sede da frota russa do Mar Negro em Sebastopol. O Ministério da Defesa russo ainda não comentou o ataque.

Outras notícias a destacar:

⇒ O Conselho da União Europeia aprovou o acordo entre os 27 Estados-membros para utilizar os lucros dos ativos russos congelados para apoiar militarmente a Ucrânia e a reconstrução do país. O anúncio foi feito pela presidência belga do Conselho da UE, mas ainda não foram avançados detalhes. Em março, no entanto, Ursula von der Leyen, admitiu a possibilidade de enviar, já em julho, os primeiros mil milhões de euros para a Ucrânia recorrendo aos lucros inesperados de ativos russos congelados no espaço comunitário.

⇒ A Rússia iniciou os exercícios militares com armas nucleares táticas na fronteira com a Ucrânia, anunciou o Ministério da Defesa russo, alegando que se trata de uma resposta a ameaças do Ocidente. "A primeira fase de exercícios (...) sobre a preparação e utilização de armas nucleares não estratégicas já começou", afirmou o Ministério da Defesa russo, em comunicado.

⇒ O alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros reconheceu que a Rússia está insatisfeita com a adesão da Moldávia ao bloco comunitário, mas rejeitou que Moscovo consiga travá-la. "Permitam-me realçar a importância do nosso apoio [à Moldávia] através do Mecanismo Europeu da Paz. Apoiámos e vamos continuar a fazê-lo", disse Josep Borrell.