Tatiana Mikhailova, economista, trabalhou vários anos como representante do Partido Comunista russo nas assembleias de voto. "Em 2011, houve os primeiros grandes protestos contra as falsificações das eleições. Depois disso, em Moscovo, houve um grande movimento de pessoas que se voluntariavam para a contagem de votos, em todas as eleições que se seguiram. Moscovo foi quase completamente coberta pelos voluntários, que olhavam para todos os boletins e certificavam-se de que a contagem era feita corretamente. Eu fui uma dessas voluntárias." Tatiana tornou-se um membro do conselho, função que ocupou durante dez anos, mais concretamente, ao longo de dois mandatos. "Contava os votos e certificava-me de que tudo era somado corretamente", rememora. Os restantes membros do conselho eram professores, que recebiam ordens dos diretores das escolas para modificarem os registos das votações. "Também podiam ser médicos, comandados por diretores de clínicas, ou trabalhadores de pequenas empresas, que respondiam às ordens dos patrões.
"A maioria de pessoas que ia até às urnas era idosa, eram reformados. Os mais novos não aparecem, porque não acreditam que nada dependa deles." Tatiana descreve-o como uma profecia em que todos se forçaram a acreditar: "Falsificam as eleições, mas ainda há quem vá votar e participe." Por isso, as eleições russas resultam da opinião dos mais velhos. "Os mais novos têm outras preferências. Os idosos são mais suscetíveis à propaganda televisiva. Os jovens não apoiam Putin."
Em muitas regiões do país, "nunca houve a tradição de levar a cabo eleições honestas", garante. Durante o período soviético, os resultados eram manipulados para assegurarem vitórias de 90%. "Essa tradição manteve-se até aos dias de hoje", explica a economista que vê agora as eleições à distância. Atualmente docente na Penn State University, na Pensilvânia, nos Estados Unidos, Tatiana conversa com o Expresso e explica como foi possível, em 2024, Putin declarar vitória com mais de 80% dos votos.