Olha Borodko tem 28 anos e vive em Kiev com a irmã, Anastasiia, de 21. Vivem só as duas. A mãe e a avó, que na verdade é uma tia da mãe a quem chamam avó porque a avó de facto vive na Rússia e não acredita que exista uma invasão, ainda vivem sob ocupação, na cidade costeira de Berdyansk, no Mar de Azov, que foi ocupada em apenas três dias. Quando março de 2022 chegou, já havia centenas de tropas russas em todo o lado.
Nos primeiros dias, Olha - que se lê “Ólia” - e os seus amigos reuniram-se em manifestações que duravam o dia todo. Mas mais e mais militares foram chegando, as pessoas foram desaparecendo para dentro de carrinhas de vidros fumados, começaram a soar rajadas de metralhadora para dispersar os protestos. As ondas da rádio foram ocupadas por estações russas, as autoridades impostas pela Rússia começaram a ficar com uma parte da apanha diária dos pescadores, os medicamentos foram escasseando porque as redes de abastecimento com Zaporíjia, a cidade maior da região, foram cortadas. A rede ucraniana de telemóvel morreu e, aos poucos, as pessoas deixaram de poder pagar com hryvnias, a moeda ucraniana, na qual recebiam os seus salários e pensões.