“Enquanto a Ucrânia aguentar, o Exército francês pode permanecer em território francês", afirmou esta segunda-feira Volodymyr Zelensky em entrevista ao jornal “Le Monde” e ao canal de televisão BFMTV, quando questionado sobre a possibilidade de o Ocidente enviar forças militares para combater a Rússia – um cenário colocado em cima da mesa há umas semanas por Emmanuel Macron.
Dias depois, o Presidente francês admitiu ter tido um “impulso estratégico”, mas pediu aos parceiros ocidentais para “não serem cobardes” e reforçou a importância de pressionar o Kremlin: um ponto também destacado pelo governo da Polónia na semana passada, durante as comemorações dos 25 anos da entrada na NATO.
Agora, Zelensky dirige-se diretamente aos cidadãos franceses: "Os vossos filhos não vão morrer na Ucrânia", garantiu o Presidente ucraniano, pedindo apenas o envio de militares para dar formação às forças de Kiev. No entanto, o líder ucraniano também lembrou que a Rússia pode expandir o conflito: "Mas se Putin conseguir atacar outro país da NATO… bem, serão os países da NATO que terão de decidir como, e em que quantidade, o seu exército deve ser enviado ou não", declarou.
A discussão sobre o envio de tropas da NATO acontece numa altura em que a Ucrânia está com falta de armamento e de munições para conter os avanços russos no leste do país. Contudo, Zelensky diz que "a situação está muito melhor do que nos últimos três meses" na frente de combate.
Na semana passada, a República Checa anunciou um plano para enviar 800 mil projéteis para território ucraniano em conjunto com outros países. O Presidente checo, Petr Pavel, afirmou hoje que “seria mais eficiente enviar os instrutores para território ucraniano e treinar aí os militares em vez de o fazer na Polónia ou na República Checa", rejeitando que isso violaria as normas internacionais.
Ao mesmo tempo, o pacote de apoio no valor de mais de €50 mil milhões anunciado por Joe Biden continua bloqueado no Congresso norte-americano devido à oposição de uma parte dos representantes do Partido Republicano em ajudar a Ucrânia – uma posição corroborada por Donald Trump, o favorito para disputar as eleições presidenciais com Joe Biden em novembro.
Eleições russas na Transnístria e na Letónia
O governo da Moldávia vai reunir-se amanhã com o embaixador da Rússia no país, para protestar contra a abertura de assembleias de voto para as eleições presidenciais russas na região separatista da Transnístria. O ministério dos Negócios Estrangeiros "vai informar o diplomata do seu desacordo" face a esta decisão, segundo uma mensagem publicada no Telegram pelo Executivo.
Segundo as agências russas, no dia 17 de março vão estar em funcionamento seis assembleias de voto para os 200 mil cidadãos russos que vivem na Transnístria. No entanto, Chisinau proibiu este ano a instalação de assembleias de voto fora da missão diplomática russa da capital e advertiu contra qualquer ação "contraprodutiva".
Ao mesmo tempo, o comandante da polícia da Letónia, Armands Ruks, declarou à estação televisiva TV3 Latvija que os cidadãos russos que fizerem fila para votar na embaixada de Riga serão vigiados para evitar qualquer tentativa de glorificação da guerra na Ucrânia.
"Haverá postos de controlo móveis nas ruas em torno da embaixada para verificar se estes cidadãos russos (...) têm o direito de residir na Letónia", continuou o chefe da polícia, cujo país é membro da UE e da NATO, e tem uma grande minoria russa. "Teremos igualmente uma tolerância zero em relação a quem tente aproveitar esse fim de semana para justificar a invasão da Ucrânia e os crimes de guerra que lá foram cometidos", acrescentou.
Ruks assegurou que as autoridades "não excluem recorrer a deportações imediatas" se houver eleitores russos que não tenham autorização de residência válida. Os serviços de imigração letões emitiram ordens de deportação de cidadãos russos que não cumpriam as novas normas em vigor, que incluem falar letão ou estar inscrito num curso da língua. Este requisito linguístico não se aplica aos refugiados ucranianos ou aos cidadãos da UE ou da NATO que residem na Letónia.
Outras notícias:
> A Suécia já faz oficialmente parte da NATO: "Somos humildes, mas também temos orgulho. Sabemos que as expectativas para a Suécia são altas, mas também temos grandes expectativas para nós próprios", disse Ulf Kristersson, primeiro-ministro, antes da cerimónia. O Governo português destacou a "forte carga simbólica" do momento em que a bandeira do país foi hasteada na sede da aliança militar, em Bruxelas. “A adesão da Suécia à NATO é resultado direto da agressão ilegal e injustificada da Rússia contra a Ucrânia. Juntos somos mais fortes", escreveu João Gomes Cravinho, no Twitter.
> O Presidente da Polónia pediu hoje aos membros da NATO para aumentarem os gastos em defesa para 3% do PIB. Andrzej Duda fez o apelo na véspera de uma visita à Casa Branca, onde o chefe de Estado e o primeiro-ministro da Polónia, Donald Tusk, serão recebidos pelo Presidente norte-americano, Joe Biden. "As ambições imperialistas e o revisionismo agressivo da Rússia estão a empurrar Moscovo para um confronto direto com a NATO, com o Ocidente e, em última análise, com todo o mundo livre", disse Duda num artigo de opinião publicado no “Washington Post”.
> A justiça da Ucrânia condenou 15 soldados russos a 12 anos de prisão. Os homens barricaram-se na aldeia de Yagodnoye, na região de Chernobyl (norte), com mais de 350 civis que usaram como "escudos humanos", afirmou o Ministério Público ucraniano num comunicado.