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Guerra na Ucrânia

No mar, a Ucrânia está a vencer: é um “feito notável”, mas a guerra com a Rússia “ainda é, acima de tudo, terrestre”

O poder naval russo já não é incontestável, nem o seu domínio no Mar Negro. De vitória em vitória, os ucranianos estão a afastar as grandes embarcações de Moscovo da sua costa e dos seus portos. É um contributo importante para a economia mundial, dizem os analistas, mas que dificilmente “alterará o equilíbrio de poder”. No entanto, já está a ajudar a economia mundial, com a exportação de cereais a aproximar-se dos níveis pré-guerra

Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu ex-ministro da Defesa, Sergei Shoigu
ALEXEY DANICHEV

Embora a contraofensiva ucraniana no terreno tenha sido dececionante para Zelensky e para os seus aliados ocidentais, no mar a Ucrânia registou “enormes progressos” no último ano. É o que nota Walter Dorn, professor de Estudos de Defesa na Canadian Forces College, em Toronto: “É notável que uma pequena Marinha consiga agir de forma tão eficaz contra a Marinha russa”.

A campanha militar que a Ucrânia organizou contra alvos russos na Crimeia contra a frota do Mar Negro combina a audácia característica dos combatentes ucranianos com drones e mísseis de cruzeiro anglo-franceses de longo alcance (Storm Shadow). E a estratégia tem já muitos meses: em 2022, os ucranianos foram responsáveis pelo naufrágio do navio emblemático Moskva e a recuperação da Ilha da Serpente. Os ataques precisos sucederam-se no verão, com a destruição do quartel-general da frota do Mar Negro em Sebastopol. Em agosto, os drones fornecidos pelo Ocidente percorreram cerca de 800 km para atingir um navio russo perto de Novorossiysk, no nordeste do Mar Negro. O controlo daquelas águas, que era maioritariamente russo, foi comprometido, o que veio também a confirmar-se há cerca de uma semana, com o naufrágio de uma corveta equipada com mísseis da frota russa do Mar Negro, chamada Ivanovets.

“O Ivanovets é um pequeno navio de guerra, com uma tripulação de cerca de 40 pessoas, mas deveria ter tido meios para se defender”, salienta o professor Walter Dorn, em declarações ao Expresso. “Tal como alguns outros ataques ucranianos bem-sucedidos de grande repercussão, o ataque ao Ivanovets foi certamente uma vitória, e é bom para a confiança dos ucranianos, depois de vários meses difíceis”, aponta Raphael S. Cohen, investigador de Ciência Política do think-tank RAND. “Estou mais cético de que isso alterará o equilíbrio de poder. A Rússia ainda tem muitos navios, e a guerra da Ucrânia ainda é, acima de tudo, uma guerra terrestre, e não naval.”

O verdadeiro significado do ataque é, no entanto, a demonstração da “ameaça contínua da Ucrânia aos navios que navegam no Mar Negro, empurrando efetivamente a frota russa mais para leste”, sintetiza Kelly Grieco, analista de segurança e estratégia norte-americana. Walter Dorn reforça: “O Novocherkassk [que se afundou, consumido pelas chamas, no porto de Feodosia, na península da Crimeia, no fim de 2023] era um navio maior e constituía um prémio maior para as forças ucranianas. Mas tudo se soma.”