A Rússia e a Ucrânia continuam a trocar acusações sobre o avião russo que se despenhou esta quarta-feira na fronteira entre estes dois países. Desta vez, foi o próprio Presidente russo, Vladimir Putin, a acusar as forças ucranianas de abaterem por "engano ou deliberadamente" o mesmo. "Os serviços secretos do exército ucraniano sabiam que levávamos 65 militares [ucranianos] a bordo. Abateram-no, por engano ou deliberadamente, mas fizeram-no", afirmou Putin, sem apresentar provas.
As declarações do Presidente da Rússia surgem pouco depois de a Direção Principal de Informações da Ucrânia ter sublinhado que as autoridades russas não forneceram previamente quaisquer informações ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) sobre alegados prisioneiros a bordo do avião.
Segundo o porta-voz das informações ucranianas, Andri Yusov, as autoridades russas deveriam ter informado o CICV sobre a identidade e o estado de saúde dos prisioneiros que supostamente seriam trocados. Yusov acrescentou que o incidente está rodeado de "circunstâncias misteriosas". Ainda assim, Kiev admitiu pela primeira vez a possibilidade de o avião russo abatido transportar 65 prisioneiros ucranianos para uma troca.
"Se a informação de que havia prisioneiros de guerra ucranianos for confirmada, estaremos perante outra grave violação do direito humanitário internacional por parte da Rússia, no primeiro caso em que a Rússia utiliza escudos humanos no ar para cobrir o transporte de mísseis", disse a vice representante da Ucrânia na ONU, Khrystyna Hayovyshyn.
Ambos os países abriram inquéritos independentes, mas Zelensky pediu uma investigação internacional (que envolva a ONU e a Cruz Vermelha). No entanto, a subsecretária-geral da ONU para Assuntos Políticos informou que o organismo "não está em condições de verificar os relatos ou circunstâncias" da queda de um avião militar russo.
Outras notícias que marcaram o dia:
⇒ A Rússia negou esta sexta-feira que o Presidente Vladimir Putin tenha manifestado qualquer disponibilidade aos Estados Unidos para negociar a entrada da Ucrânia na NATO em troca do controlo russo sobre os territórios anexados no país vizinho. "Esta informação está errada e não coincide em absoluto com a realidade", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na habitual conferência de imprensa diária.
⇒ O ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, visitou Kharkiv. “Estou aqui com aqueles que vivem na linha da frente da democracia, enfrentando o nosso inimigo comum e defendendo os nossos valores partilhados”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).
⇒ As negociações para a Hungria aceitar a revisão do orçamento plurianual da União Europeia, que inclui apoio financeiro para a Ucrânia, estão "complicadas" pela "inflexibilidade" de Budapeste, ponderando-se a suspensão do direito de voto do país, afirmaram esta sexta-feira fontes europeias. A negociação com a Hungria “continua”, mas "o nível de frustração está a aumentar" entre os restantes líderes dos 27, disse uma fonte europeia à agência Lusa.
⇒ Paris acusou Moscovo de uma “manobra coordenada” para divulgar informações falsas envolvendo o país, como a alegada presença de "mercenários" franceses lutando por Kiev na Ucrânia, anunciou, esta sexta-feira, o Ministério das Forças Armadas francês. "Os serviços estatais relevantes identificaram e estão a seguir a manobra coordenada da Rússia, incluindo por redes de informação pró-Rússia e meios de comunicação estatais como Sputnik News, RT e RIA Novosti, para transmitir e amplificar esta informação falsa", afirmou o ministério, num comunicado.
⇒ O líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, disse, esta sexta-feira, que qualquer votação sobre novo financiamento de ajuda à Ucrânia, bem como sobre política de migração, está condenada ao insucesso. Este comentário surge numa altura em que, segundo a comunicação social norte-americana, o antigo Presidente e candidato à Casa Branca Donald Trump está a pressionar os congressistasrcongressistas republicanos para bloquearem os pedidos orçamentais do executivo do democrata Joe Biden.
⇒ Pelo menos 11 trabalhadores humanitários morreram, em 2023, na Ucrânia, durante o cumprimento das suas funções. Outros 35 ficaram feridos e ocorreram 227 incidentes que afetaram as operações de ajuda no país, declarou esta sexta-feira a ONU num comunicado. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, em inglês), durante o ano de 2023 as organizações humanitárias reportaram uma média de quatro incidentes por semana que afetaram as operações na Ucrânia.
Pode rever tudo o que aconteceu no 701.º dia de guerra aqui.