A Rússia anunciou que iniciou, esta quinta-feira, um inquérito por "terrorismo" após a queda de um avião militar russo perto da fronteira com a Ucrânia, com Moscovo. Segundo as autoridades russas, este avião transportava 65 prisioneiros ucranianos e foi abatido por Kiev. “Está em curso uma investigação criminal sobre um ato terrorista”, declarou o Comité de Investigação russo em comunicado.
Segundo o órgão, responsável pelas principais investigações no país, durante a inspeção ao local do acidente os inspetores encontraram "restos humanos e as caixas negras do avião".
"De acordo com dados preliminares, o estado de ambas as caixas pretas permitirá que sejam descodificadas. Serão transportadas num voo especial para um laboratório do Ministério da Defesa (em Moscovo), onde o seu conteúdo será analisado", disse um porta-voz dos serviços de emergência à agência TASS.
Os investigadores repetem, através de um comunicado, a versão avançada por Moscovo desde quarta-feira, segundo a qual "o avião foi atacado por um míssil antiaéreo a partir de território ucraniano". No entanto, até à data, a Rússia não apresentou qualquer prova da presença ou da identidade dos passageiros deste avião de transporte, nem demonstrou que a Ucrânia sabia quem estava a bordo do aparelho.
Apesar de Zelensky ter pedido uma investigação internacional (que envolva a ONU e a Cruz Vermelha), a própria Ucrânia também já abriu, segundo a agência Ukrinform, um inquérito criminal. O mesmo está a ser conduzido ao abrigo de um artigo do Código Penal ucraniano sobre violação das leis e costumes da guerra, disse o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU).
No rescaldo do acidente aéreo, subsistem muitas questões, com Moscovo e Kiev a acusarem-se mutuamente de desinformação. Fontes militares de Kiev, citadas pela agência Ukrinform e pelo jornal 'online' Ukrainska Pravda, disseram que o avião transportava mísseis para os sistemas antiaéreos S-300 usados para bombardear a Ucrânia.
Outras notícias que marcaram o dia:
⇒ O tribunal militar de São Petersburgo condenou Daria Trepova a 27 anos de prisão, a cumprir numa colónia penal. A jovem russa foi acusada do assassínio à bomba de um dono de um blogue russo especializado na invasão da Ucrânia. De acordo com Moscovo, o assassinato foi planeado pela Ucrânia. Esta é a sentença mais severa proferida publicamente contra uma mulher na Rússia desde a queda da URSS, informou a agência Ria Novosti, esclarecendo que, de acordo com a lei russa, uma mulher pode receber um máximo de 30 anos de prisão em caso de acusação de terrorismo.
⇒ Além da condenação de Daria Trepova, um tribunal de Moscovo condenou hoje a quatro anos de prisão o nacionalista russo Igor Girkin, um veterano dos combates na Ucrânia em 2014, que apoiou a ofensiva contra Kiev e se tornou crítico do regime. Girkin é culpado de “apelos públicos à prática de ações extremistas”.
⇒ O Presidente russo, Vladimir Putin, deslocou-se ao enclave de Kaliningrado, situado entre a Polónia e a Lituânia, pouco depois do início dos maiores exercícios militares da NATO desde o fim da Guerra Fria (1991). A visita de Putin a Kaliningrado está relacionada com o Dia do Estudante e incluiu um encontro com estudantes da Universidade Estatal Immanuel Kant, segundo o Kremlin. O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, negou que a viagem tenha como objetivo enviar uma mensagem à Aliança Atlântica, segundo a agência espanhola EFE.
⇒ Portugal propôs, em Bruxelas, a criação de um mecanismo permanente para acolher refugiados ucranianos depois da atual diretiva de proteção temporária, cujo prazo de prorrogações termina em março de 2025. A ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, explicou que, numa reunião com homólogos europeus, foi abordado um "novo mecanismo que possa permitir a proteção destas pessoas que estão em extrema vulnerabilidade, apesar dos processos de integração que são diferentes de país para país". A ministra portuguesa defende "uma resposta comum, à semelhança daquilo que houve quando foi criada a diretiva de proteção temporária".
⇒ Os ucranianos e os líderes europeus estão indignados com o encontro de Lavrov com Guterres. Os detalhes do encontro entre ambos os líderes foram partilhados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, que, na quarta-feira, divulgou uma fotografia do aperto de mãos entre Guterres e Lavrov. Inacreditável", escreveu na plataforma X (antigo Twitter) o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis.
De acordo com o Governo russo, o encontro aconteceu na terça-feira e resultou numa "discussão substantiva sobre vários aspetos da cooperação entre a Rússia e a ONU, assim como sobre questões-chave da agenda internacional". "Ambas as partes salientaram a importância de reforçar ainda mais o papel central de coordenação das Nações Unidas na política global, tendo em conta toda a gama de opiniões dos seus Estados-membros", diz o comunicado.
⇒ O Nepal pediu à Rússia o regresso de centenas de cidadãos nepaleses que foram recrutados para combater contra a Ucrânia. "Pedimos à Rússia que suspenda imediatamente o recrutamento de cidadãos nepaleses para o Exército russo, que devolva imediatamente os que já estão a servir no Exército, que autorize a trasladação dos corpos dos que morreram e que trate e deixe regressar os que ficaram feridos nos combates", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do Nepal. Estima-se que o Exército russo tenha recrutado mais de 200 cidadãos nepaleses para combater na Ucrânia e que pelo menos 14 morreram no país.
Pode rever tudo o que aconteceu no 700.º dia de guerra aqui.