Guerra na Ucrânia

Bisneto de Estaline acusa Rússia de travar uma guerra ilegal porque povo não foi consultado

Jakov Dzhugashvili argumenta que “o povo russo não enviou as Forças Armadas para a guerra” e que o Parlamento não publicou um “única lei ou disposição legal alusiva à guerra, à Ucrânia ou à operação militar especial”

O neto de Estaline (Dzhugashvili), Yevgeny Dzhugashvili, ao centro, com os seus netos Josef Vissarionovitch Dzhugashvili, à esquerda, e Vaso Dzhugashvili, à direita
VANO SHLAMOV

O bisneto de Estaline, Jakov Dzhugashvili, considerou ilegal a guerra da Rússia contra a Ucrânia porque as autoridades não consultaram o povo quando enviaram tropas para o país vizinho. "Para que as Forças Armadas participem nesta guerra, têm de ser enviadas para o campo de batalha pelos órgãos do Estado russo sob as instruções e em nome do povo russo", disse o descendente do ditador soviético.

Dzhugashvili disse à agência espanhola EFE que nem a Duma nem o Senado, as duas câmaras do Parlamento russo, emitiram "uma única lei ou disposição legal alusiva à guerra, à Ucrânia ou à operação militar especial". Referiu que pouco importa que "uma pessoa a fazer de [Presidente Vladimir] Putin tenha anunciado na televisão" o início da operação militar especial (SVO, na sigla em russo) a 24 de fevereiro de 2022.

"Não existe qualquer documento no sítio Web do Presidente sobre o início da SVO. Assim, o povo russo não enviou as Forças Armadas para a guerra na Ucrânia, nem diretamente nem através dos seus poderes estatais", afirmou.

Na opinião de Dzhugashvili, que tem o mesmo nome e apelido que o filho mais velho de Estaline, "desta forma, os funcionários [do Estado] querem evitar tudo o que os possa associar à operação militar especial".

"Porquê? Só tenho uma resposta. Querem fugir à responsabilidade prevista no artigo 353.º do Código Penal [planear, preparar, desencadear ou desencadear uma guerra de agressão]", afirmou.

O bisneto de Estaline, de 50 anos, que se encontra atualmente em Moscovo, disse à EFE que o artigo em causa prevê penas que podem ir até 20 anos de prisão.

Referindo-se à anexação da península ucraniana da Crimeia, disse que, a 1 de março de 2014, o Senado russo não hesitou em especificar para onde e com que finalidade enviava tropas. "E no documento de 22 de fevereiro de 2022 [o Senado] não se atreveu, porquê? Porque em 2014 as ações da Rússia eram legais e em 2022 já não o são", insistiu.

Acusou ainda os políticos e os meios de comunicação social ocidentais, interessados na derrota da Rússia na guerra, de esconderem o facto de o povo russo não ter autorizado o Exército a intervir militarmente na Ucrânia. "Escondem este facto ao povo russo e ao mundo apenas para prolongar esta guerra fratricida o mais possível", afirmou o bisneto de Estaline, que liderou a União Soviética durante um quarto de século.

Quanto ao bisavô, afirmou que as autoridades estão a utilizar o nome de Estaline, da União Soviética e da Grande Guerra Patriótica (1941-45), o episódio soviético da Segunda Guerra Mundial, para fins de propaganda. Segundo Dzhugashvili, o objetivo é "convencer o povo russo de que a operação militar especial na Ucrânia é tão justa como a Grande Guerra Patriótica".

A invasão russa da Ucrânia desencadeou uma guerra que já entrou no terceiro ano civil e cujo desfecho continua a ser imprevisível.