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Guerra na Ucrânia

“A Ucrânia tem conseguido equilibrar a Federação Russa na guerra, mas pode não ser uma paridade duradoura”

A contraofensiva ucraniana minada pelo insucesso enfraqueceu a narrativa do país. O ensaio do General Zaluzhnyi publicado na “Economist” é uma pedrada no charco da propaganda sobre a guerra de ambas as partes, pois assume erros e abre a porta para o futuro. Mas é sobretudo um recado para o mundo, uma lista antecipada de presentes de Natal que o Ocidente terá de decidir se vai enviar, ciente do destino do conflito. Zaluzhnyi fala dum impasse do qual a tecnologia é saída, e que Ucrânia não pode subestimar a Rússia. Numa altura em que o holofote da imprensa internacional abandonou a Ucrânia, na sequência do ataque inesperado do Hamas a Israel, a unidade e o apoio dos aliados mantêm-se, mas o futuro tornou-se incerto

Zona atingida por um míssil em Odessa, Ucrânia
REUTERS

A invasão ilegal pela Federação Russa da Ucrânia está num impasse, segundo o chefe máximo das Forças Armadas Ucranianas, General Valeri Zaluzhnyi. Grande parte da linha da frente está parada embora com elevadas baixas de parte a parte. Desde o início da primavera, a Ucrânia terá penetrado no território ocupado, entre seis a nove quilómetros, sedimentando essas posições. Existem ataques e assaltos com relativo sucesso de ambas as partes. Mas a única vitória, do lado ucraniano, é o impacto dos ataques na Crimeia. A Ucrânia obrigou a frota russa do Mar Negro a abandonar o porto de Sevastopol. Um golpe fundo que parece não ter abalado politicamente o Kremlin, que está de facto em modo de economia de guerra, em que temos padarias a recebem subsídios para produzir drones, o mesmo método usado por Estaline.

Durante meses a expectativa foi sendo gerida sobre o sucesso da contraofensiva na Ucrânia, mas a verdade é que os resultados ficaram longe dos esperados. "Se alguém espera ver algo como um ataque de cavalaria ao estilo Budyonny ou uma batalha de tanques ao estilo soviético, é melhor ir ao cinema", disse ao Expresso, Anatoli, o comandante do 1.º batalhão da 37.ª brigada de fuzileiros. Demorou até que vozes oficiais ucranianas o admitissem. Numa entrevista ao Ukrainska Pravda, o Tenente General Kyrylo Budanov, chefe da espionagem ucraniana, referiu-se à contraofensiva como “fora do cronograma”, talvez aludindo ao que Zaluzhnyi chama de “guerra posicional moderna”. Mais do que num impasse, a guerra está num ponto de viragem para já indefinido.