Guerra na Ucrânia

Erdogan transforma adesão da Suécia à NATO numa montanha-russa

Na véspera da cimeira da NATO de Vílnius, onde a Suécia espera receber “luz verde” para entrar na Aliança Atlântica, o Presidente da Turquia condicionou o “sim” turco à retoma das negociações com vista à adesão do país à União Europeia. A Alemanha já rejeitou a ligação entre os dois processos e o secretário-geral da NATO recordou que a Suécia acedeu a exigências da Turquia

TT NEWS AGENCY/Reuters

O processo de adesão da Suécia à NATO ganhou grande complexidade, esta segunda-feira, após o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ter feito depender qualquer passo nesse sentido, que Ancara ainda não aprovou, da reativação do processo de adesão da Turquia à União Europeia (UE), congelado desde 2006.

O chanceler alemão já rejeitou qualquer ligação entre as duas negociações. “Não deve ser visto como uma questão interligada”, afirmou Olaf Scholz, numa conferência de imprensa em Berlim, insistindo na ideia de que “nada impede a adesão da Suécia à NATO”, que o Presidente turco tem vindo a bloquear há meses.

Horas antes, Erdogan fora claro nos seus objetivos: “Primeiro, abram o caminho para a adesão da Turquia à UE e, depois, abriremos o caminho para a Suécia, tal como abrimos o caminho para a Finlândia”, declarou o chefe de Estado turco.

“A Turquia está à espera, à porta da UE há mais de 50 anos e quase todos os países membros da NATO são agora membros da UE. Estou a fazer este apelo a esses países que deixaram a Turquia à espera, às portas da UE, durante mais de 50 anos”, disse Erdogan.

A Turquia é um país candidato à UE, mas a adesão tem estado bloqueada devido ao que Bruxelas considera ser um retrocesso democrático de Ancara e também aos litígios com o Chipre, membro do bloco europeu. A Turquia é o único país do mundo que reconhece a independência do norte da ilha de Chipre, de maioria turca.

Finlândia dentro, Suécia fora

A cimeira da NATO de Vílnius será a primeira que contará com a presença da Finlândia, como membro de pleno direito da Aliança Atlântica. Finlândia e Suécia solicitaram adesão à NATO logo após o início da invasão russa da Ucrânia, mas enquanto Helsínquia alcançou o objetivo em abril passado, o processo sueco tem marcado passo.

A Turquia tem bloqueado a adesão da Suécia à NATO, afirmando que o país tem de fazer mais para combater os militantes curdos e outros grupos que Ancara considera como ameaças à sua segurança nacional.

Protestos recentes contra a Turquia e contra o Islão, em Estocolmo, levantaram dúvidas quanto à possibilidade de se alcançar um acordo antes da cimeira da NATO, mas, esta segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros sueco, Tobias Billström, mostrou-se otimista.

“Estamos a contar chegar a um ponto em que recebamos uma mensagem do Presidente Erdogan, a que se pode chamar ‘luz verde’, para que o processo de ratificação no Parlamento turco possa começar”, afirmou Billström.

Suécia cumpriu a sua parte

O governante sueco recordou que a Suécia cumpriu a sua parte do acordo tripartido que assinou com a Turquia e a Finlândia na cimeira da NATO realizada em 2022 em Madrid.

“Devemos considerar a questão como resolvida, no sentido em que não se trata de uma questão de ‘se’. No âmbito da cimeira da NATO em Madrid, no ano passado, a Turquia já concedeu à Suécia o estatuto de país convidado da NATO. É, portanto, uma questão de ‘quando’", afirmou.

A Turquia, juntamente com a Hungria, tem-se oposto à adesão da Suécia, apesar das medidas tomadas pelo país escandinavo, incluindo a reforma da Constituição e a aprovação de uma nova lei antiterrorista, enquanto Erdogan critica a Suécia pela sua alegada clemência para com os militantes curdos que se refugiaram no país.

“A Suécia cumpriu os seus compromissos”, enfatizou, esta segunda-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, destacando os progressos feitos pelas autoridades suecas para fortalecer a luta contra o terrorismo curdo, uma exigência colocada pela Turquia.

A reunião prevista para Vílnius entre Stoltenberg, Erdogan e o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, poderá ser crucial para Ancara abandonar as objeções. “É possível ter uma decisão positiva” sobre a adesão de Estocolmo à NATO, disse Stoltenberg.