O plano para fazer do Donbas parte da Federação Russa não foi pensado em 2014, nem em 2013, quando milhares de ucranianos se reuniram na Praça da Independência, em Kiev, nos últimos meses desse ano, para protestar contra o afastamento progressivo do seu Governo em relação à União Europeia.
O projeto original é bem mais antigo e teve início logo após a Revolução Laranja de 2004, um movimento de cidadãos, de alguma forma percursor das revoltas de 2013 e 2014, contra a eleição de Viktor Yanukovych, o Presidente pró-russo que havia vencido com um pequeno empurrão de Moscovo. As pessoas vieram para a rua pedir novas eleições - e conseguiram-nas. O resultado foi uma clara vitória para Viktor Yushchenko, mais próximo do Ocidente, com 52%, contra os 45% de Yanukovych.
Em 2005 o plano estava no terreno. Como explica o extenso relatório “Vile Bodies”, resultado de 10 anos de investigação da Fundação Free Russia, fundada nos Estados Unidos em 2014, começou com um movimento que deixava explícito no seu próprio nome o seu objetivo: “República de Donetsk”.
Foi um embrião que se formou nas mentes de alguns dos membros mais voluntariosos da Juventude Euroasiática (ESM), um grupo de extrema-direita liderado pelo pensador, filósofo, sociólogo russo Aleksandr Dugin, ele mesmo defensor de teorias supremacistas e participante assíduo, ao longo dos anos 80 e 90, em conferências, tertúlias, reuniões e outros fóruns de antissemitas na Rússia e por toda a Europa. O “eurasianismo” de Dugin é a ideia de que a Rússia está no centro do mundo - o que faz de Moscovo um inimigo potencial dos grandes poderes do Atlântico. É daí que vem a ideia de construir um império até Lisboa, de que o próprio Dugin, que arranha o português e gosta de MPB, já falou.