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Guerra na Ucrânia

A contraofensiva “está a ganhar velocidade” e as perspetivas da Ucrânia “são boas”: dividir a ocupação russa em duas será uma prioridade

Os analistas consultados pelo Expresso estão de acordo: a contraofensiva ucraniana começou bem. O ritmo é o de quem procura conhecer o chão que pisa, mas a estratégia está fixada muito mais além, tem um horizonte que pode ir até Mariupol e/ou à Crimeia e objetivos tão ambiciosos quanto quebrar ao meio, em dois flancos, as defesas russas que tiveram pelo menos seis meses para se entrincheirarem. O principal foco do esforço ucraniano deverá revelar-se nos próximos dias

"Com o compromisso de apenas uma pequena parte das forças alocadas para a contraofensiva, a Ucrânia está a ganhar”
Global Images Ukraine

Harry Halem, investigador principal do Instituto Yorktown norte-americano, dedicado à Defesa, chama-lhe a segunda fase da operação. A primeira foi de modelamento, diz, e “esta é a fase de sondagem.” Quase uma semana já se passou desde o início da contraofensiva ucraniana e as conquistas são já “razoáveis”, embora se apresentem “apenas como pequenos passos em direção ao objetivo principal”. Apesar de as autoridades russas assegurarem que conseguiram repelir todos os ataques, as forças de Kiev afirmam agora que conseguiram libertar sete localidades: Neskuchne, Storozheve, Blahodatne e Makarivka, em Donetsk, e Novodarivka, Lobkovo e Levadne, na linha de Zaporíjia.

Pode ser “muito cedo” para julgar a contraofensiva ucraniana, mas “os russos parecem apreensivos e os ucranianos estão a falar pouco, que é o que faríamos no lugar deles”, observa Daniel Fried, antigo diretor do Conselho de Segurança Nacional norte-americano (durante as presidências de Bill Clinton e George W. Bush). Segundo Harry Halem, neste momento de “sondagem”, o objetivo da Ucrânia é “manipular um desdobramento das reservas russas e manter as suas próprias reservas livres até que o esforço principal se comece a desenhar no terreno”.

Kelly Grieco, investigadora de Defesa no Reimagining US Grand Strategy Program, do think tank Stimson Center, também considera adequado aplicar o verbo “sondar” às ações dos ucranianos no terreno: “As forças da Ucrânia estão a sondar a linha defensiva russa, tentando identificar os pontos mais fracos. Nesse processo, os russos também revelam as suas posições e táticas defensivas aos ucranianos.” As linhas russas na Ucrânia não foram elaboradas de forma contínua, são irregulares e muitas são também mal geridas, consideram os analistas ouvidos pelo Expresso. Nas respostas às ameaças que surgem na linha da frente, as autoridades russas comprometem forças que não poderão ser facilmente deslocadas à medida que o campo de batalha se altera e que se dão avanços em outros lugares. Por isso, pode mesmo ser inevitável a sobrecarga das tropas de Moscovo, enquanto as forças ucranianas serão mais poupadas.

“Quanto mais as forças ucranianas puderem avançar sem o apoio das suas unidades mais pesadas, ou seja, de unidades que possuem equipamento ocidental - das quais apenas uma parece ter sido comprometida -, mais a Ucrânia poderá forçar a Rússia a usar um setor valioso e reservas estratégicas antes que o esforço principal da contraofensiva comece”, explica Harry Halem.