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Guerra na Ucrânia

Do "improvável" mas "possível" colapso do Exército russo ao afastamento de Putin: o que pode acontecer na guerra da Ucrânia em 2023

Uma nova mobilização militar russa não estará nos planos do Kremlin, mas isso não significa que Moscovo não possa continuar a fazer estragos em várias frentes. Os analistas ouvidos pelo Expresso acreditam que Putin tentará algo “drástico” ao longo do próximo ano e também não descartam um possível colapso do Exército russo e a remoção do Presidente do seu cargo. Se essa hipótese não se confirmar, os ucranianos poderão demorar anos a expulsar as tropas de Moscovo dos seus territórios

Treino militar russo em Rostov
STRINGER

A 21 de dezembro, durante uma reunião do Conselho do Ministério da Defesa russo, o ministro Sergei Shoigu fez suscitar uma dúvida: por que quereria a Rússia alterar estruturalmente as Forças Armadas do país ainda com a guerra em curso? As reformas anunciadas pelo governante russo vão desde quem estará sujeito ao serviço militar obrigatório universal da Rússia (agora com muitas exceções), o aumento da faixa etária de elegibilidade de 18 a 27 anos para 21 a 30 anos, até ao aumento do tamanho máximo do Exército russo em 490 mil pessoas. Os recrutados passarão também a poder alistar-se imediatamente como soldados contratados. A conclusão possível - e mais provável - é a de que o Kremlin finalmente compreendeu que o Exército que enviou para a Ucrânia é insuficiente para combater aquela guerra e que alterações serão necessárias (inclusivamente aprender com os erros).

Mark Cancian, antigo conselheiro do Departamento de Defesa norte-americano, está convencido de que o fraco desempenho russo na guerra é para o Kremlin cada vez mais difícil de ignorar. “A Rússia já mostrou alguma aprendizagem. Por exemplo, os russos usam agora a sua artilharia muito mais extensivamente do que no início da guerra e concentraram os seus ataques aéreos e de mísseis na infraestrutura ucraniana, particularmente na rede elétrica. Isso submeteu o povo ucraniano a grandes dificuldades, mas teve um efeito estratégico que a Força Aérea russa não tinha tido antes.”

Raphael S. Cohen, investigador de Ciência Política do 'think-tank' RAND, que fornece análises e informação às Forças Armadas dos Estados Unidos, garante que de ambos os lados houve lições a tirar. “Todas as guerras envolvem aprendizagem: os combatentes descobrem o que funciona e o que não funciona”, argumenta. A guerra na Ucrânia não é exceção. “Há algumas evidências de que os russos estão a aprender. Por exemplo, a retirada russa de Kherson foi mais ordenada do que a retirada de Kharkiv. O lado ucraniano, porém, também está a aprimorar-se, por isso não está necessariamente claro que essa aprendizagem alterará o equilíbrio para um lado ou para o outro.”