Depois da intervenção junto dos líderes do G20, o Presidente da Ucrânia publicou um comunicado no Telegram onde detalha os termos que o país considera essenciais às negociações da paz.
“Não vale a pena oferecer à Ucrânia compromissos sem consciência, soberania, território e independência”, escreve. E acrescenta: “se a Rússia diz que supostamente quer o fim desta guerra, deixem-nos prová-lo com ações.”
O objetivo é Não permitir “que a Rússia espere, reforce as suas forças e inicie uma nova série de terror e desestabilização global”. “Não haverá Minsk-3, porque a Rússia violará imediatamente após o acordo”, explica.
A expressão é uma referência ao Acordos de Minsk, uma série de tratados assinados em 2014 e 2015, que visavam a paz no Donbas. O primeiro falhou o objetivo de cessar as hostilidades na região. O segundo (uma versão revista e atualizada do primeiro, conhecida por Minsk-II) foi declarado inválido por Vladimir Putin a 22 de fevereiro, após o Presidente russo reconhecer a independência das autoproclamadas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk. A Rússia culpou a Ucrânia pelo fracasso dos tratados antes de a invadir, a 24 de fevereiro de 2022.
Em alternativa, a Ucrânia avança com os termos que considera essenciais à paz.
"Existe uma fórmula ucraniana para a paz. Paz para a Ucrânia, a Europa e o mundo. E há um conjunto de soluções que podem ser implementadas para realmente garantir a paz. Tendo participado da cúpula do G20, apresentei propostas para tais soluções – específicas e honestas. A Ucrânia oferece aos principais estados do mundo (a opção de) serem cocriadores da paz juntamente connosco”.
Segundo Volodymyr Zelensky, estes são os dez pontos da “fórmula ucraniana para a paz”:
- Segurança de radiação e nuclear;
- Segurança alimentar;
- Segurança energética;
- Libertação de todos os prisioneiros e deportados;
- Implementação da carta da ONU e restauração da integridade territorial da Ucrânia e da ordem mundial;
- Retirada das tropas russas e cessação das hostilidades;
- Restauração da justiça;
- Antiecocídio;
- Prevenção de escalada;
- Estabelecer o fim da guerra.
A “fórmula” é divulgada um dia após o secretário-geral da NATO ter afirmado que cabe à Ucrânia definir os termos necessários para entrar nas negociações para o fim do conflito. O papel da NATO será apoiar Kiev, defendeu Jens Stoltenberg esta segunda-feira.
Rússia considera termos “irrealistas”
O Kremlin reagiu rapidamente ao comunicado do Presidente da Ucrânia.
Dmitry Peskov afirmou que o comunicado do Presidente ucraniano demonstra que o governo de Kiev não está interessado em participar em negociação de paz com Moscovo. O porta-voz do Kremlin é citado pela agência RIA Novosti.
Pouco depois, a partir de Bali, onde está para a cimeira do G20, Sergey Lavrov afirmou que os termos expressos por Volodymyr Zelensky são “irrealistas”. Fazendo eco do que já tinha sido dito por Dmitry Peskov, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo acusou a Ucrânia de “não estar disposta a ouvir conselhos”.
"Estou convencido de que chegou o momento, que a guerra destrutiva da Rússia deve e pode ser travada"
O comunicado de Zelensky surgiu no seguimento da sua intervenção junto dos líderes dos países do G20. Durante o seu discurso, o Presidente da Ucrânia defendeu que “é tempo” de pôr fim ao conflito. "Estou convencido de que chegou o momento, que a guerra destrutiva da Rússia deve e pode ser travada", afirmou, sendo citado pela AFP.
Volodymyr Zelensky denunciou as “ameaças loucas da Rússia de utilizar armas nucleares” e argumentou que não deve haver “nenhuma desculpa para a chantagem nuclear”.
Sobre o acordo para a exportação dos cereais ucranianos via Mar Negro (que expira na sexta-feira) defendeu que deve ser prorrogado indefinidamente.