Exclusivo

Guerra na Ucrânia

"Putin trabalha numa perspetiva de longo prazo": os desaires na Ucrânia "são contratempos, não são necessariamente um problema"

O maior risco de escalada acontece quando Putin pensa que está encurralado, alerta o investigador Luke March, que, ao longo dos anos, se especializou em política pós-soviética, sobretudo a da Federação Russa. De acordo com o autor, Putin conta com a mentalidade de curto prazo dos países ocidentais, sempre focados em ciclos eleitorais democráticos e, por isso, mais curtos. Mas, se a Rússia sair da guerra com alguma conquista territorial, os perigos são muitos, alerta Luke March: "Dentro de poucos anos, a Rússia pode acordar e tentar novamente incorporar a Ucrânia. Qualquer cenário em que a Rússia ganhe alguma coisa, e em que haja um rearmamento maciço em toda a Europa, trará uma nova guerra fria"

Um sistema de foguete russo de lançamento múltiplo dispara em território ucraniano
RUSSIAN DEFENCE MINISTRY PRESS SERVICE HANDOUT

A política da antiga União Soviética (especialmente a política russa e moldava), o nacionalismo na Federação Russa e o discurso de política externa russa são alguns dos temas que mais fascinam o investigador Luke March, da Escola de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Edimburgo. O investigador de Política Pós-Soviética e Comparada da Universidade de Edimburgo e vice-diretor do Centro Russo Princesa Dashkova acredita que é cedo para a Ucrânia cantar vitória, já que as reviravoltas que têm acontecido na guerra é um revés de curto prazo para Putin, um estratega que pensa a longo prazo. "A Rússia nunca admitirá a derrota, por isso não poderá parar até que tudo seja apresentado internamente de uma forma o mais positiva possível", analisa, nesta entrevista com o Expresso, não desprezando também que o Presidente russo não está cercado por pessoas que pediriam que fosse mais brando, mas, pelo contrário, que diriam para avançar com mais força.