Guerra na Ucrânia

Papa lamenta morte de Daria Dugina, embaixada ucraniana critica discurso que classifica de “dececionante”

As palavras do Papa ao lamentar as vítimas inocentes da guerra na Ucrânia, em declarações onde incluiu o caso de Daria Dugina, foram mal recebidas pela embaixada ucraniana no Vaticano. O embaixador Andrii Yurash criticou que Dugina seja descrita como uma "vítima inocente"

Papa Francisco
YARA NARDI/REUTERS

O embaixador ucraniano no Vaticano criticou esta quarta-feira duramente as palavras do Papa sobre os inocentes vítimas da guerra na Ucrânia, dando como exemplo o atentado a Daria Dugina, filha de um ideólogo do Kremlin.

“Muitos feridos, muitas crianças ucranianas e crianças russas ficaram órfãs. Os órfãos não têm nacionalidade, perderam o pai e a mãe, sejam russos ou ucranianos. Penso em tanta crueldade para tanta gente inocente que está a pagar esta loucura em todos os lados, porque a guerra é uma loucura”, disse o Papa Francisco durante a audiência geral, ao recordar os seis meses desde o início da invasão russa da Ucrânia.

E a seguir, acrescentou: “Penso na pobre rapariga que foi pelos ares devido a uma bomba debaixo do assento de um carro em Moscovo. Os inocentes pagam a guerra”, referindo-se à morte da jornalista e cientista política russa de 29 anos Daria Dugina, filha de Alexandr Dugin, escritor ultranacionalista que promove uma doutrina expansionista e que se apresenta como feroz defensor da ofensiva russa na Ucrânia, considerado um ideólogo do Presidente russo, Vladimir Putin.

Perante estas declarações, a diplomacia ucraniana reagiu de imediato, afirmando que o Papa estava a pôr ao mesmo nível o agressor e o agredido.

O embaixador da Ucrânia no Vaticano, Andrii Yurash, escreveu na rede social Twitter que o discurso papal sobre a guerra na Ucrânia na audiência desta quarta-feira de manhã foi “dececionante”.

“Isso fez-me pensar que as categorias de agredidos não podem comparar-se com as de agressores, vítimas com verdugos, violados com violadores. Como é possível citar a filha do ideólogo do imperialismo russo (Alexandr Dugin) como vítima inocente? Ela foi assassinada pelos russos como vítima sacrificial e agora é um escudo de guerra”, escreveu o diplomata.

O secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa ucraniano, Oleksii Danilov, disse na terça-feira que o assassínio de Daria Dugina foi uma “execução perpetrada pelos serviços secretos russos e que a Ucrânia não teve nada que ver” com o sucedido.

A reação da embaixada reduz as hipóteses de Jorge Bergoglio se deslocar a Kiev antes de visitar o Cazaquistão, a 13 de setembro, onde não se descarta uma reunião com o patriarca ortodoxo russo, Cirilo I, que apoiou a invasão russa da Ucrânia.

O Vaticano não confirmou, até agora, qualquer das possibilidades.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa – justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.

Na guerra, que hoje entrou no seu 182.º dia, a ONU apresentou como confirmados 5.587 civis mortos e 7.890 feridos, sublinhando que os números reais são muito superiores e só serão conhecidos no final do conflito.