Exclusivo

Guerra na Ucrânia

Ataque a porto ucraniano de Odessa: “Basta criar um efeito de insegurança. É esse o jogo da Rússia”

Não tinha ainda decorrido um dia sobre o acordo assinado para a exportação de cereais através de portos ucranianos e já um deles era atacado por mísseis. Tratou-se de uma “demonstração de poder” por parte da Rússia ou faz parte do seu “padrão de criar incerteza”? O Expresso falou com vários especialistas, que apontam “algumas fragilidades” ao acordo e sublinham o “desprezo” russo pelas Nações Unidas

Coluna de fumo em complexo atingido por ‘rocket’ russo em Odessa (16 de julho de 2022)
Nina Liashonok/ Ukrinform/Future Publishing/Getty Images

Acordo assinado num dia e violado no dia seguinte? A questão colocou-se na manhã deste sábado após a notícia de um ataque russo contra o porto ucraniano de Odessa, uma infraestrutura essencial para a exportação de cereais através do Mar Negro. Moscovo já negou por procuração – isto é, através da Turquia – qualquer envolvimento no ataque, mas ainda não reagiu oficialmente. A Ucrânia acusou a Rússia de “cuspir na cara” das Nações Unidas e da Turquia, que serviram de mediadores para o acordo assinado entre as duas capitais em Istambul. A Rússia deverá assumir “toda a responsabilidade” se o acordo for quebrado, declarou o porta-voz do Ministério ucraniano dos Negócios Estrangeiros, acrescentando que se tratou de “um ataque de Vladimir Putin ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e ao Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan”.

O acordo visa permitir que navios de carga exportem cerca de 22 milhões de toneladas de trigo, milho e outros cereais armazenados em silos, a partir de três portos ucranianos: Odessa, Pivdennyi e Chornomorsk. Menos de 24 horas depois de o acordo ter sido assinado entre o ministro russo da Defesa e o ministro ucraniano das Infraestruturas, na presença de Guterres, dois mísseis de cruzeiro atingiram o porto de Odessa, tendo outros dois sido intercetados pelas defesas ucranianas, segundo avançou Kiev. Bruno Cardoso Reis, coordenador do doutoramento em História, Estudos de Segurança e Defesa do ISCTE e da Academia Militar, avança ao Expresso duas hipóteses para explicar a atuação da Rússia.