Ou a soberania ou o Ocidente: é "irreversível". A Rússia está entre um passado que já terminou e um futuro que começou, mas ainda não foi materializado. É desta forma que Aleksandr Dugin dá as boas-vindas a uma nova era de apogeu russo no mundo, após um corte voluntário - e esta ideia tem para o Kremlin grande importância - com o Ocidente. No seu mais recente artigo, o filósofo, "guru" e pensador russo próximo do poder sustenta que 24 de fevereiro de 2022 - o início da guerra na Ucrânia, ao qual chama, como o regime, "OME" [operação militar especial] - aconteceu porque, na aproximação da Rússia aos países ocidentais, por anos a fio, a sua "soberania" não foi respeitada.
Sónia Sénica, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais e conhecedora da obra de Dugin e da cultura russa, lembra, em declarações ao Expresso, que a visão da Rússia nos países ocidentais e aliados dos Estados Unidos da América é bastante distinta da autoavaliação feita por Moscovo. Na ótica interna, a Rússia é "uma democracia soberana, um conceito de [Vladislav] Surkov que remete para uma democracia robusta, de liderança forte, personalizada, com uma sociedade civil que, não só legitima a liderança política, como a apoia e sustenta".