Noam Chomsky garante que tem memória. Os 93 anos de idade permitiram ao influente filósofo norte-americano analisar muitos momentos da História mundial e refletir acerca da responsabilidade dos Estados Unidos da América na configuração geopolítica e nos conflitos internacionais. É um dos maiores pensadores da esquerda americana e não se coíbe de apontar o dedo ao regime - que diz ser "totalitário" - do seu país.
Nesta entrevista com o Expresso, o professor emérito do MIT e professor laureado da Universidade do Arizona ataca a superpotência em 'decadência': "Qualquer pessoa com um osso de moralidade no corpo procurará uma forma de acabar com a guerra." O linguista não tem dúvidas: um acordo de paz, com concessões de parte a parte, é fundamental para determinar o fim imediato da guerra na Ucrânia. Quem o impedir está a fazer uma "experiência de suposição", pondo em jogo milhões de vidas humanas, sujeitas aos ataques russos, à fome e aos efeitos das alterações climáticas.
Alguns analistas defendem que o que o Ocidente pode fazer é assegurar mais equipamento militar à Ucrânia. Outros acreditam que negociar agora pouparia muitas vidas, as economias e as infraestruturas da Ucrânia. É imperativo, chegados a este ponto, continuar a enfrentar a Rússia? Acredita que a Ucrânia pode chegar ao fim de uma guerra longa com todo o território preservado?
Há algumas obviedades que não podem ser debatidas. Ou a guerra é finalizada pela diplomacia ou chegará ao fim pela capitulação de um dos lados. Isto é lógico. A diplomacia, por definição, significa que ambos os lados têm algo com o qual conseguem viver, algo que conseguem aceitar. Talvez não tenham o que querem, mas, pelo menos, têm algo. Os que se opõem à diplomacia estão a dizer: "Vamos colocar em marcha uma experiência de suposição. Vamos ver se, talvez, os russos capitulam e se Putin se retira silenciosamente com a perspetiva de ser julgado por crimes de guerra." Talvez. Essa possibilidade é doente. Veremos, com os meios que ele obviamente tem, a devastação da Ucrânia.