O acaso fez com que partisse de Odessa apenas duas semanas antes da eclosão da guerra na Ucrânia, em fevereiro. É uma proximidade que tem mantido ao longo da carreira, mas, ao contrário da grande maioria dos historiadores, foi preferindo familiarizar-se com a paz. Stella Ghervas, historiadora e professora de História da Rússia na Universidade de Newcastle, nasceu na União Soviética, na atual Moldávia, passou os verões da infância em Odessa e diz-se "uma filha da Perestroika". Dedicou o seu último livro, que já está nas livrarias, à ideia da construção da paz. Porém, não é por acaso que "À Conquista da Paz: do Iluminismo à União Europeia", da editora Desassossego, é publicado em tempos de guerra. Conflitos armados na Europa são "coisa do destino", desabafa, antes de iniciar a entrevista com o Expresso.
A maior parte dos historiadores foca o seu trabalho nos períodos de guerra. Como é que se interessou e por que começou a estudar a conquista da paz, mais especificamente da paz na Europa?
É uma pergunta interessante, porque quando tentamos fazer uma introspeção acerca do nosso trabalho, da nossa investigação e dos nossos livros, pensamos em termos de itinerário e trajetória de experiências pessoais, mas também intelectuais. Muitas vezes estes dois aspetos estão interligados. A minha investigação anterior e os meus trabalhos passados eram acerca da Europa pós-napoleónica e do sistema de Congresso, que nasceu no Congresso de Viena, de 1814 e 1815, após duas décadas de Revolução e guerras napoleónicas. Fui ficando muito interessada em como os grandes poderes, os vencedores que destronaram Napoleão, pensavam não apenas sobre como terminar a guerra e estabelecer a paz, mas também em como manter a paz. Porque, geralmente, as regras eram consideradas, na longa e remota História da Europa, como uma ferramenta, um instrumento para resolver um conflito entre dois Estados vizinhos ou duas comunidades. Por isso, a guerra era encarada como uma ferramenta diplomática para resolver um conflito.